sábado, 1 de junho de 2013

Brasil - Espanha e o efeito dominó

"Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha"

 
Carles: Neymar ao Barça; com a grana, o Santos quer contratar Bielsa do Athletic de Bilbao e Diego Ribas, sonho do Atlético de Madrid que, então, quer Leandro Damião enquanto o Athletic de Bilbao quer Valverde, treinador do Valencia que quer Djukic, treinador do Valladolid. O que você acha do Muricy treinando o time ‘pucelano’?
Edu: Nem em sonho. Muricy, com seu proverbial bom humor e perfil cosmopolita, não daria certo nesse contexto, nem iria querer. Não tem nem muita saúde hoje em dia para uma aventura europeia, apesar de ter muitas qualidades como treinador-boleiro. Não será desta vez que Muricy vai caminhar pelas paisagens renascentistas de Valladolid e apreciar a arquitetura da Plaza de San Pablo.
Carles: Mas você percebe que os mercados daqui e daí, de alguma forma, equivalem-se cada vez mais, são de ida e volta e nem tão de via única como há um tempo.
Edu: Um dado, em especial, ilustra isso. O Santos já queria Bielsa antes de Muricy, mas não houve acerto em 2011. Em números de hoje, Bielsa teria um salário bem menor que o de Muricy, representaria uma sensível economia ao clube. Muricy ficou muito valorizado pelos títulos brasileiros que conquistou por São Paulo e Fluminense e também pela Libertadores da América que ganhou com o Santos. Além de ter sido convidado para treinar a Seleção, antes de Mano Menezes. Nos cálculos da cartolagem da Vila Belmiro, o clube economizaria cerca de 1,5 milhão de reais por ano se pagasse o salário que Bielsa tem hoje no Bilbao.
Carles: Só que o Bielsa não é um cara que leve desaforo para casa. Não hesita na hora de arrumar as malas e cair fora. Acho que até está demorando para deixar Bilbao, onde fez uma temporada 2012-13 espetacular, embora tenha começado a atual discutindo com a diretoria por causa de umas reformas nos campos de treinamento. Depois teve o caso Llorente, que acabou deixando o clube para ir defender a Juventus, além de outros menos badalados como Iraola ou Amorebieta. Aliás, parece que isso é algo que se repete ao longo da sua carreira, os começos brilhantes.
Edu: Mas ele tem um atributo que o Santos namora há tempos: gosta de trabalhar com revelações. Muricy virou as costas para a base e assinou sua sentença. Hoje, Bielsa é prioridade total na Vila, que ainda tem uma profícua fábrica de jovens jogadores. É claro que os caras não conhecem bem o temperamento do argentino e podem pagar caro por isso. Nem sei se o próprio Bielsa aceitaria esse ambiente volátil do futebol brasileiro, uma vez que o Santos é um time muito mais visado do que o Bilbao, no contexto nacional. Ainda mais sob as exigências desta era pós-Neymar. Bielsa deu uma ótima entrevista nesta semana, fazendo o balanço da temporada e reiterou que não gosta de tratar com a mídia. Aliás, não gosta de refletores em geral. Uma frase dele chamou atenção, mostrando que tem sintonia total com a esposa: 'Minha mulher me disse: gostaria de ser basca, não falam muito, só o necessário'. Não seria esse o ambiente que encontrariam por aqui, definitivamente.
Carles: Para começar, seria recomendável que os jornalistas brasileiros fossem se acostumando a falar com o cocuruto de ‘el loco’ Bielsa. Nesta temporada em Bilbao, ele deu todas as entrevistas coletivas olhando para a mesa. Não conhecem o temperamento dele? Onde estiveram todo este tempo? Há anos que Marcelo é o chamado de ‘culo de mal asiento’. Não costuma chegar ao final da segunda temporada, se bem que comandou a Seleção da Argentina de 1998 a 2004 e com ótimos resultados, conseguindo a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas com um time de jovens talentos como Tevez, Mascherano, Saviola e Lucho Gonzales.
Edu: É verdade que em matéria de humor no trato com a imprensa, não será exatamente uma grande novidade, porque Muricy na maioria das vezes também é intratável. Pessoalmente, acho que seria uma grande aquisição para o futebol brasileiro, um modelo diferente de gestão tática e de formação de jogadores. Não sei se o Santos suportaria algumas idiossincrasias de 'el loco' e também tenho dúvidas se o clube é capaz de bancar um projeto sem títulos por um tempo, para solidificar a formação de um novo time, sob forte pressão da torcida. Mas seria uma experiência revitalizante.
Carles: Ele pode parecer excêntrico, mas burro não é. Sabe dessas particularidades e deve ter muita vontade de trabalhar com as potencialidades do futebol brasileiro. Os desafios parecem motivá-lo. Foi assim que ele pegou a alviceleste para substituir o Passarela. Também é algo muito especial e complicado ser treinador em Bilbao, tendo em conta a estreita política de contratações do clube, que conta apenas com jogadores nascidos na região do País. E, considerando que já treinou a sua seleção além da chilena, quem sabe estando no Santos, bem pertinho da Rua Victor Civita 66, no Rio, pode ser uma boa alternativa para um eventual fracasso da comissão técnica que a CBF trouxe de Bedrock.
Edu: Ótimo para o Santos o fato de ele ter essa predisposição. Mas para a Seleção ainda precisaria derrubar algumas graníticas barreiras culturais que alguns boçais do futebol brasileiro continuam alimentando - como esse pessoal que conviveu com os Flinstones. Seria, ao menos, um estimulante começo ter um técnico argentino da gema trabalhando no Campeonato Brasileiro.
Carles: E que argentino! Uma ‘bomba de relojería’ pronta para explodir a qualquer momento. Mesmo assim, prefiro ‘el loco’ treinando por perto, onde eu possa ver os seus times jogando todas as semanas. Digo mais, com um bom assessor de imagem (duvido que aceitasse) ele poderia estar disputando com Guardiola ou Klopp o privilégio de ser o símbolo da revolução no planeta futebol.


2 comentários:

Antonio Salles Neto disse...

Mais uma ótima conversa, assim como ótimo seria ver Bielsa melhorar o DNA técnico dos treinadores no Brasil. Somos pobres taticamente e incapazes de abrir defesas. É preciso referências novas. Basta ver a forma como o Galo empatou com Tijuana, em casa. Trágico.
Acho que aqui só há 3 treinadores competentes: Tite, Muricy e Felipe Scolari (discordo da maioria que o acha ruim). Abel Braga é quase. Vamos ver como será Paulo Autuori, no Vasco, depois de passar 7 anos fazendo fortuna e atrofiando a mente na ruindade árabe.
Os treinadores argentinos estão muito adiante dos nossos.

Edu disse...

Paulo Autuori sempre pareceu um cara criterioso e conhecedor do assunto. Mas você disse tudo: tanto tempo por aqueles lados faz o cara perder as referências. Seria muito bom ter 'el loco' por aqui...