Carles:
Dentro de uma semana é para valer. E justamente entre os dois únicos times
já garantidos para a Copa 2014.
Edu:
O Brasil tem um histórico bem favorável contra os japoneses, mas já penou em
muitos jogos, principalmente em torneios de jovens. E esta seleção foi de certa
forma renovada pelo Zaccheroni.
Carles:
Nem me fale de torneios de jovens que eu me lembro do Espanha-Japão da última
Olimpíada.
Edu:
Eles dão trabalho né?
Carles: Meteram
1 a 0 justo nesse grupo de jogadores de ‘La Rojita’ que começou a disputar o Europeu Sub-21 em
Israel, esta semana.
Edu: Mas
quando viram profissionais, os japoneses não têm segurado o rojão. Nas poucas
vezes que vi o atual time me pareceu bastante conservador, como convém a um
técnico como o italiano. Tudo gira em torno do Kagawa e dos outros mais
experientes do time, os meias Honda e Yasuhito Endo.
Carles:
Eles sabem que é mais uma fase de um projeto a longo prazo e que, por enquanto,
não convém inovar, nem pretender fazer nenhuma revolução tática. A hegemonia da região já é uma
grande conquista. Normalmente, a seleção japonesa não tem nenhuma
dificuldade em superar as fases classificatórias, são líderes em número de títulos
continentais, ganhadores de três das últimos quatro edições da Copa da Ásia.
Edu:
Mesmo assim é um grupo de jogadores muito mais ocidentalizado hoje do que há
algumas copas. Falamos tanto aqui em adaptação cultural dos nossos jogadores na
Europa, mas certamente para estes japoneses a transição é duplamente
complicada, embora os asiáticos sejam muito mais resistentes e, mais que tudo,
predispostos a conviver com novos cenários sociais. O time atual tem vários
jogadores com experiência na Alemanha, Holanda e Rússia. O próprio Kagawa teve
uma passagem brilhante pelo Dortmund antes de se transferir para o Manchester.
Imagino que esse tipo de jogador seja referência para a seleção não só em
função do aprendizado técnico, mas como padrão de experiência bem sucedida.
Carles:
Verdade, contudo, imagino, eles são conscientes de que, mais do que pelo
futebol, em alguns casos, atraem o interesse de clubes europeus como chamariz
para mercados de muito peso. Por aqui tivemos Iroshi Ibosuki, que passou por vários
times de segunda divisão até ser contratado pelo Sevilla e agora joga na
Bélgica.
Edu:
Essa ligação com o mercado asiático, que é obvia e crescente, mas tem mão dupla.
Shinji Kagawa, ganhando cinco milhões de libras por ano, não deve estar muito
preocupado com a exploração que o Manchester faz, e de forma bem competente, do
mercado nipônico.
Carles:
Um mercado que ajuda muito, por exemplo, a que o presidente do Madrid,
Florentino Pérez, tome suas decisões na hora de contratar seus galácticos. Só
com a venda de camisetas e outras "baratijas" na região asiática, ele
recupera boa parte o capital investido. Aliás, as excursões de pré-temporada à
Ásia sempre provocaram um ou outro atrito entre diretorias e atletas que,
alegam, são muito desgastantes. Para os cartolas, as cifras merecem o esforço.
Dos outros.
Edu:
Aliás, estão preparando o mercado asiático para o novo galáctico da Catalunha.
Neymar assinou com aquela empresa inglesa de marketing que 'vendeu' Beckham por
aqueles lados. A realidade é que o Japão entrou de vez no circuito do futebol,
como de outros esportes, mas ainda falta o grande salto. Zico, que conhece como
poucos o futebol japonês, como jogador e técnico, disse uma vez que eles têm
todos os requisitos - organização, disciplina tática, dedicação, predisposição
ao novo -, menos um: há uma barreira técnica difícil de transpor, que se nota
no momento em que enfrentam equipes tradicionais. É o estágio mais complicado
entre o time-surpresa e o time de verdade.
Carles:
Os números indicam que mesmo em fim de carreira e, agora, aposentado, Beckham
segue sendo o campeão de vendas por lá. Nenhuma surpresa. Se David não
existisse, algum desenhista de Mangá teria pensado em criá-lo. Rosell, o
presidente ‘culé’ mais parecido com Florentino que já existiu, não perderia
essa oportunidade. Neymar tem a imagem e a história perfeitas para vender
milhões no Japão, Coreia, China… Se eu não soubesse que ele está sendo
absolutamente sincero nas suas declarações carregadas de humildade e espírito de
superação, dignas de um lutador shaolin, eu diria que fazem parte de um roteiro
previamente escrito. Ah, não podemos esquecer o pioneiro nessa coisa de
exportar a grife do sol nascente ao mundo ocidental: Nakata, com um relativo e
merecido êxito no Calcio e na Premier.
Edu:
Bem lembrado, foi um desbravador. E responsável por criar, de alguma maneira,
um mercado fixo no Calcio, que tem hoje japinhas bem menos brilhantes como Yuto
Nagatomo, lateral voluntarioso da Inter de Milão, e Morimoto, do Catania, que cumpre sua sétima
temporada na Itália. Este último nem virá à Confecup.
Carles:
É possível que as carências às que o Zico se refere sejam, em parte, fruto da concorrência
de outros esportes entre as crianças orientais, em que pese o esforço em difundir e
implantar o futebol entre os estudantes. Essa pode ser uma das razões pelas quais
o futebol feminino vem ganhando adeptos em países como Japão, Estados Unidos e
onde ainda exista uma preferência dos meninos por esportes coletivos com maior
tradição nacional. E elas, pelos resultados, estão aproveitando a brecha muito
bem.
Edu:
Tem tudo a ver. No masculino, porém, há um permanente pré-julgamento do lado de
cá sobre a limitada capacidade física dos japoneses no que diz respeito à
estatura. Na semana passada, alguém, numa entrevista da comissão técnica da
Seleção Brasileira, lembrou que as jogadas pelo alto podem ser decisivas contra
o Japão. Não será nada estranho se, na semana que vem, Felipão gastar mais da
metade do tempo treinando cruzamentos para a área. Ele adora essa jogadinha
primitiva.
Carles: Aos Felipões e Mourinhos sempre restarão as
bolas paradas.
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