domingo, 30 de junho de 2013

‘La Roja baja la mirada frente al campeón’


Carles: As primeiras manchetes dos meios espanhóis falam do melhor Brasil e da pior Espanha. Foi como você viram aí?
Edu: O melhor Brasil desta fase de estiagem, sem a menor dúvida. E a Espanha esteve sufocada, mas pelas virtudes do adversário. Provou em alguns momentos do próprio veneno, o que de certa forma remete ao que conversávamos antes do jogo, que só era possível vencer com inteligência. Pareceu mais um Brasil da Baviera, foi uma repetição de Bayern-Barça...
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sábado, 29 de junho de 2013

Tensões acima da estratégia


Carles: Michel e Cardeñosa mais do que ninguém, queriam esse jogo, mas também o resto de povos reunidos dentro do território espanhol. Convença-nos de que deveríamos ter evitado esse destino.
Edu: É uma forma enviesada de me perguntar como o Brasil pode ganhar o jogo?
Carles: Assim de enviesados somos por aqui, enquanto fomos um povo baixinho, advogamos por times raçudos e musculosos, quando a espécie cresceu, temos um time de ‘bajitos jugones’. Sim, essa é a pergunta.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A mãe de todas as finais


Carles: Ufa!!! Já quase recuperei a pulsação.
Edu: Isso é para todo mundo aprender a nunca duvidar da Itália.
Carles: E quem duvidou? Esta Itália é a que mais gostei.
Edu: Nós não, mas muita gente, até mesmo entre os espanhóis.
Carles: Não na seleção, Del Bosque sabia das dificuldades, mas Prandelli surpreendeu. Digo mais, se Pirlo e De Rossi tivessem 24 anos de idade talvez não estivéssemos celebrando.
Edu: O fato é que a Itália articulou no calorão de Fortaleza não só para impedir a Espanha de fazer seu jogo, mas para obrigar a Espanha a atuar de uma forma que não sabe (…)
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‘La Roja’ prepara suas respostas


Edu: Mais Família Del Bosque do que nunca, com Iker, Cesc e Torres.
Carles: Boas opções. Confirmam-se minhas suspeitas quanto a Casillas e Fernando Torres. Inclusive aprovaria a opção por Cesc como homem de ligação, chegando de trás e colaborando na zona de marcação que não conta com Xabi Alonso. Aprovaria se não preferisse Silva contra a Itália. Assim mesmo, a escalação ainda não é oficial.
Edu: O equívoco é Torres. Nesse esquema italiano que foi anunciado ele provavelmente não pegará na bola, com a mobilidade que tem.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Paulinho espanta o ‘Mineirazo’


Carles: O primeiro finalista 500 a.C. já fez os deveres de casa.
Edu: Convenhamos, a final já está carimbada. E o jogo foi tudo que imaginávamos.
Carles: Eu até achei que ia ser difícil, mas inclusive vi alguns dos defeitos se acentuarem. É certo que o posicionamento proposto por Tabárez foi coisa de jogo de xadrez e, se tivessem um goleiro à altura, a coisa teria se complicado.
Edu: A proposta do Uruguai é essa mesmo. O jogo nunca será bonito porque eles são muito dedicados sem a bola, travam o jogo, dificultam o passe. Foi justo o que, estranhamente, não fizeram contra a Espanha, quando ficaram na roda, de forma passiva. O Brasil caiu fácil nessa armadilha. (…)
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A nada confiável Celeste


Edu: Ninguém confia no Uruguai, para o bem e para o mal.
Carles: Realmente a torcida brasileira vê algum risco de não estar na final?
Edu: Todos os riscos. No contexto sul-americano é adversário tão letal quanto a Argentina. E não é fazer tipo, da boca pra fora. É um time complicadíssimo para o atual Brasil, que também gosta de um corpo a corpo e poucas sutilezas.
Carles: Não deve ser fácil, só que eu acho que o Brasil tem suficiente força para ganhar o jogo, a não ser que não convenha que a Seleção chegue à final pelo bem da Copa 2014. Teorias conspiratórias absurdas, não?
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terça-feira, 25 de junho de 2013

Chegou Pep, ‘La Estrella del Sur’


Edu: O que você me diz de Guardiola falando alemão, já chegou colonizado?
Carles: Ledo engano. Ele demonstrou que é poliglota durante a apresentação, respondendo perguntas em inglês, castelhano, catalão e italiano e, detalhe: em bávaro!!!! Porque ele não falou em alemão, usou a língua regional, com expressões autóctones e, com isso, longe de ser soberbo ou prepotente, deu um recado, como catalão da gema que é. De respeito à cultura local, da região. Qualquer coisa, menos colonizado, nem por Madrid, nem por qualquer outra dominação centralista.
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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Antídotos para a ‘vendetta’ da Azzurra


Edu: Você tem certeza de uma vitória da ‘Roja’ na semifinal?
Carles: Contra a Azzurra? Nenhuma certeza, mas boas possibilidades. O time vem bem, apesar o sufoco da Nigéria, justamente em Fortaleza, cenário do jogo, e da indisposição física de muitos jogadores espanhóis. Busquets, como bom jogador de várzea que é, aguentou, mas foi muito para Cesc. Também é certo que as condições climáticas serão as mesmas para os dois times, só que alguns jogadores, lembrando do esforço, provavelmente tentarão economizar forças de início. Menos Jordi Alba, claro.
Edu: Hoje, conversando com Juan Arias, correspondente no Brasil de ‘El Pais’, e André Rizek, do SporTV, lembrávamos de quantas vezes a Azzurra parecia morta e ressurgiu das cinzas. Em 1982, empatou os três primeiros jogos, fez apenas dois gols, entrou numa guerra fratricida contra a imprensa italiana. E foi tricampeã mundial aí na sua terra (…)
  
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domingo, 23 de junho de 2013

Quatro campeões do mundo e só dois lugares na final

 
Edu: Vitória em segunda marcha e com uma boa dose de preguiça... Só não avisaram o Jordi Alba.
Carles: Normalmente, com 30 graus na sombra, estamos fazendo a 'siesta'. E ainda mais tendo pela frente esses gigantes africanos. A aposta da Nigéria foi válida, jogar tudo a uma carta, no primeiro tempo e quase sai bem.
Edu: Sem falar na altíssima umidade.
Carles: Mais da metade desse plantel é mediterrâneo e convivemos bem com a umidade, mas foi visível o desgaste físico. Pelo menos até aqui fizemos pleno, 100%, com vitórias sobre os campeões dos outros três continentes do planeta futebol.
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sábado, 22 de junho de 2013

A caminho da final dos sonhos


 
Carles: Andei reclamando que o time do Felipão nem divertia, nem usava a inteligência. Você se queixava da falta de padrão de jogo. Hoje, pelo menos, houve uma série de correções de posicionamento do time, a defesa jogando uns cinco passos mais adiante facilitou a conexão as coberturas. As individualidades ficaram um pouco sacrificadas, como Oscar que, em compensação trabalhou como ninguém para a equipe. Enfim, o homem esteve a ponto de me convencer da sua reabilitação, quando resolveu colocar Fernando em campo.
Edu: Acho que vi outro jogo. Nem ordem nem segurança, as duas virtudes que ambos - Felipão e Parreira - mais pregam. Claro, é divertido ver esse time caótico. Não tem jogo simples, não tem vitória fácil. É, como sempre, a lógica do sufoco.


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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Oscar ameaçado e o exemplo de 'La Rojita'


Edu: Este momento do futebol internacional é bem peculiar quanto à valorização dos jovens, como já comentamos algumas vezes aqui. O Brasil, que sempre foi celeiro, já cuidou bem melhor de seus garotos. Para não ir muito longe, o intratável Dunga perdeu a chance de levar para a África do Sul dois meninos que, se tivessem tido aquela experiência de Copa do Mundo, mesmo como reservas, hoje estariam alguns passos adiante. Um deles até que vingou, Neymar, mais por suas virtudes pessoais. Mas o outro afundou, Paulo Henrique Ganso. Foi uma demonstração, dentro da categoria máxima do futebol brasileiro, da falta projetos para os jovens, coisa que, para pegar o exemplo extremo oposto, a Espanha tem de sobra hoje em dia.
Carles: Existe, sim, uma geração brilhante de jovens esportistas que basicamente é consequência de um projeto implantado desde os anos 80, com investimento em infraestruturas, como já dissemos algumas vezes aqui. ‘La Rojita’, a seleção sub-21 da Espanha acabou de revalidar seu título europeu em Israel, com um time que na minha opinião pode ser melhor que o atual e provavelmente com alguns jogadores que já podem estar na Copa do Mundo se a Espanha conseguir confirmar sua classificação. Muitos deles substituirão alguns dos reservas da equipe principal que hoje marcaram um histórico 10 a 0 na seleção de Taiti. Histórico pelo resultado numérico, claro, e pelo cenário, mítico para os espanhóis.


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Mais Neymar, menos Felipão

 
Carles: Visto que a torcida brasileira, ou pelo menos uma parte dela, decidiu repudiar simbolicamente o futebol como forma de protesto, imagino que quem mais está celebrando o jogo entre as seleções brasileira e mexicana é a gente do Barça. Como se já não bastasse o que fizeram em campo Iniesta, Xavi e Cesc no último domingo, parece que o melhor Neymar ameaça voltar. Só faltou uma equipe com uma filosofia mais associativa para que o novo blaugrana fizesse uma partida completa.
Edu: A torcida, ao contrário, mostrou para quem pretende usar o futebol como bode expiatório que é possível ter consciência, não virar as costas para os problemas do país e ao mesmo tempo desfrutar desse jogo. O futebol continua sendo um dos canais mais autênticos para se demonstrar descontentamento ou regozijo, desde que os oportunistas fiquem de fora. Eu diria que a torcida teria sido o grande personagem do jogo, não fosse o carinha da camisa 10. Imagino a reação do pessoal do Barça. Aliás, tivemos 80 minutos de Felipão e 10 de Neymar. O que funcionou melhor?
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quarta-feira, 19 de junho de 2013

‘Hay cosas que te ayudan a vivir’

 
Edu: Hoje, logo cedo, uma grande amiga que nos acompanha fielmente no 500aC me perguntou, ainda com o que lhe resta de lucidez e bom humor diante dos últimos acontecimentos: “Será que se eu sair pela rua dizendo que sou a favor da Copa e da Olimpíada no Brasil vou ser linchada?”
Carles: Se realmente as manifestações são uma mostra de amadurecimento político, pode falar para ela sair e gritar o que quiser, sem medo. E não se trata de ser ingênuo imaginando que por trás de cada bandeira defendida não existam interesses menos nobres dos que aparecem escritos nas faixas, mas reconhecer que toda manifestação é legítima, orquestrada ou não, já que encontrou algum tipo de resposta popular, com a justa dimensão do momento histórico e político, nem mais nem menos.

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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Iniesta, retrato da excelência



Edu: As coisas que mais marcaram na primeira rodada da Confecup foram uma indisfarçável comoção pelo desempenho da Espanha (tanto aqui, como aí), visível alívio brasileiro e dúvidas sobre quem será o principal coadjuvante, Uruguai, Itália ou Nigéria.
Carles: Vamos pelo que eu tenho mais próximo, a Seleção Espanhola, que confirmou as duas grandes suspeitas sobre o seu desempenho neste futuro próximo - que é capaz de desenvolver o melhor jogo entre os participantes e que chega ao torneio com as suas forças limitadas. Se essa capacidade física que, parece, dura meia partida, for suficiente, pode ser o grande candidato ao único título importante que lhe falta. O mais provável é que, frente a adversários como Itália ou Brasil, serão necessários mais do que 45 minutos de excelência.


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domingo, 16 de junho de 2013

Em nome de Pirlo


Edu: Esse México não assusta, não é possível que cause algum problema ao Brasil, mesmo depois da síndrome criada pelos últimos resultados negativos, incluindo a final olímpica.
Carles: Até acho que tem um material humano razoável, e quando consegue chegar à frente pode dar algum susto, mas tem muita dificuldade em fazer a bola circular, com as linhas muito desconectadas e um sistema defensivos muito frágil. A Itália tampouco esteve no mesmo nível o que no amistoso contra o Brasil.


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sábado, 15 de junho de 2013

Nada maravilhoso, mas convincente


Carles: Melhor começo impossível, não? Vitória, gols e Neymar quebrando o jejum…
Edu: Claro, bom começo, mas não exageremos. E mostrando o que será o Brasil daqui por diante: competitivo, antes de mais nada, do jeito que a Comissão Técnica gosta. Não deixa de ser um grande avanço em relação ao que vínhamos vendo.
Carles: Eu vi o mesmo time só que com muito mais entusiasmo (…)


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Em campo, algum sonho e muitas dúvidas


Foto: Espacio de Color ®

Carles: No post anterior falamos que o Brasil começa a escrever uma parte importante da sua história, em torno à organização de dois eventos esportivos e sobre as dúvidas que tudo isso gera. Isso, fora de campo, porque, dentro, está em jogo o prestígio de pentacampeão mundial. A algumas horas da estreia e também com muitas dúvidas, pergunto: por que vocês acham que pode dar certo?
Edu: Vamos lá. Primeiro, por exclusão, por não acreditar que nenhuma das Seleções participantes da Confecup chegue como bicho-papão. A Espanha, como já dissemos tantas vezes aqui, tem jogadores desgastados pela temporada massacrante e, pelo jeitão do pessoal, não prioriza tanto assim o torneio, que funciona mais como ambientação para o ano que vem.

 


Fora do jogo, o 365 a.C.

 
Edu: Minha humilde vivência em Copas do Mundo e em outros torneios internacionais importantes me ensinou que muito do que parece ser, em um evento desse porte, de fato não é. Explico. As grandes obras viárias, a construção de hotéis, a maquiagem sofrida pelas cidades e questões ligadas ao trânsito e à infraestrutura de saúde e fornecimento de energia são importantíssimas, mas, acredite, não têm tanto peso específico no momento em que o visitante faz seu julgamento sobre a organização. É claro, são temas fundamentais para quem vive aqui, mas para o turista podem ser compensados por outros serviços. O que quer dizer, por outro lado, que nossos incontáveis gargalos sociais não serão e nunca seriam resolvidos por uma Copa do Mundo. Não acredito que alguém tenha essa ilusão.
Carles: O público que virá, provavelmente não tem tantos reparos assim em gastar ou consumir, nem responde ao perfil dos que tem a expectativa de encontrar por estruturas e serviços socializados. Mesmo assim, as comparações costumam ser inevitáveis e acredito que existe uma evidente desconfiança. Se considerarmos que existe a tendência mundial é a de reduzir a oferta de serviços públicos e que o Brasil aumentou consideravelmente seu investimento em infraestruturas, as sensações poderiam ser surpreendentemente positivas. Sai com vantagem quem tem um menor déficit. O exemplo é Londres, cidade cantada como 'modélica' quanto a oferta de serviços, mas na que se paga por tudo, e muito bem!!! Quanto aos imprevistos, parecem inevitáveis em um evento desse porte. Convém evitar os mais previsíveis.
Edu: O Brasil testa a partir deste fim de semana sua capacidade de construir o maior acontecimento do futebol e tem ainda, nessas questões de infraestrutura, gravíssimos entraves. Começa daqui a exatamente um ano e se pensarmos que o próprio comitê organizador afirmou que a Copa está 50% pronta é sinal de que a coisa anda feia mesmo. Mas sabe o que o torcedor mais preza? Não é o aeroporto funcionando redondo nem o trânsito livre ou um hotel de máxima categoria, embora isso mexa com seu humor eventualmente. Tanto o turista do futebol quanto quem trabalha no evento quer, principalmente, duas coisas: ser bem tratado pelas pessoas e ter segurança. Quanto ao resto, ele se vira. Não é o ideal? Mas não é desesperador, é o que temos.
Carles: É o que eu disse, é um público com um nível de exigência determinado e disposto a pagar por isso. Claro, quer se sentir seguro. Nesse ponto, além dos riscos reais, pesa um certo alarmismo sobre as questões de segurança no Brasil, difíceis de superar. Isso não vai mudar até a Copa, quem vai, vai desconfiado, e o evento é uma grane oportunidade para mudar ou pelo menos amenizar essa sensação. Se tudo correr com normalidade, haverá menos críticas. Se as expectativas forem superadas, pode haver uma melhora considerável da imagem, inclusive para os próprios brasileiros.
Edu: Não acredito, por exemplo, que as seis sedes da Confecup venham a apresentar problemas de hospedagem ou déficit de serviços, como restaurantes e bares, locais para visitação, programação cultural. Lógico que a alta dos preços, abusiva em alguns lugares, vai provocar reclamações. Mas o cara que aumenta acima do normal o custo do serviço vai se dar mal duplamente: perde o freguês imediatamente para a concorrência e não receberá o visitante durante a Copa no ano que vem. Um sujeito que vem de fora vai valorizar mais o fato de que alguém o ajudou, foi delicado e solícito, do que um congestionamento aqui e outro ali. O agravante, neste caso, é que a preparação dos voluntários foi muito deficitária. No Rio, por exemplo, os próprios jovens que se propuseram a ajudar estão sentido falta de suporte dos organizadores.
Carles: O pensamento condutor nesses casos deveria ser de que tudo que for construído ou melhorado na infraestrutura direta ou indiretamente implicada não deve ser cenografia para inglês ver, mas, sim, um legado social. Um ideal difícil de cumprir plenamente, mas recomendável. Por outro lado, os aspectos aos que você se refere, parecem-me dentro da previsibilidade. A quantidade de hóspedes e uma projeção da demanda de refeições são dados que não deveriam representar uma grande incógnita, pelo menos dentro de margens de erro razoáveis. Do contrário pode ser percebido como negligência e falta de planejamento, mesmo considerando que a responsabilidade em grande parte caiba à iniciativa privada, isso sim, sob incentivos da administração pública.  Talvez a maior dificuldade seja de teor político. À distância, o Brasil parece um paiol de pólvora, repleto de disputas políticas, de alianças esdrúxulas que dificultam a unificação de esforços e até uma avaliação objetiva dos resultados, pelas ganas ao benefício político. É um processo de amadurecimento desejável, mas de difícil compatibilização com os eventos.
Edu: Esse é, de longe, o maior problema em um processo de gestão desse porte: o curto circuito dos interesses políticos. Uma outra questão, ligada à tecnologia, também pode trazer dificuldades. Se algo não funcionar em telecomunicações em alguma das sedes poderá prejudicar em especial os profissionais. Jornalista é bastante intransigente com isso, com razão. Mas também nesse caso, tudo tem jeito se por perto estiverem especialistas tanto na área técnica quanto no tratamento e no atendimento às necessidades dessas pessoas.
Carles: Também sou intransigente com isso. As conexões não podem falhar, são o único contato com o espetáculo d que que disporá o espectador virtual, que multiplica por milhões o número e turistas. Internet tem que oferecer, no máximo, a precariedade à que estamos acostumados por aqui. Não pior. Portanto, considero uma questão prioritária. Há ainda questões preocupantes como o trato da polícia com a massa de público à entrada dos estádios. Por mais que se treine, existe uma marca cultural, miliciana e militarizada, assimilada pela população mas estranha à maioria dos visitantes. Isso não vai desaparecer do dia para a noite.
Edu: Quanto aos estádios, vejo preocupações bem menores. Haverá problemas, é certo. Provavelmente uma ou outra seleção irá reclamar do gramado. Até na organizadíssima Alemanha, em 2006, houve dificuldade de fluxo de público e quedas de energia e comunicação em um ou dois dos estádios novíssimos de então. Isso não exime, mas de certa forma justifica o que pode ocorrer em praças esportivas recém-inauguradas. O fato é que os estádios de Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Fortaleza, por exemplo, já foram bem testados nas últimas semanas e os organizadores têm elementos para fazer a coisa funcionar sem grandes dificuldades, inclusive questões de acesso e segurança do público e de quem trabalha – jogadores, imprensa, pessoal de apoio e produção. Se não fizerem, é por pura incompetência administrativa.
Carles: Tem razão, as falhas acontecem nas melhores famílias, só que estas já têm o perdão prévio, pelo menos quanto às questões básicas. Em alguns casos, a expectativa já é a pior possível, em parte por preconceito, em parte graças a motivos reais. Só que nem começou o evento e tem muita gente prevendo o pior. Por isso eu acho que a eficiência deve ser maior do que a da Alemanha ou da Inglaterra. Nem que seja para calar algumas bocas.
Edu: Pois é, há uma certa incerteza quanto ao Maracanã, não do lado de dentro, mas nas cercanias, alguns acessos difíceis, uma preocupação também notada no novíssimo estádio de Recife. Mas os responsáveis prometeram uma blitz nos últimos dias para corrigir deficiências no que diz respeito à sinalização e aos serviços de informação e orientação por conta dos voluntários.
Carles: Apesar das promessas, provavelmente muita coisa ficará para ser resolvida ou remediada em cima da hora. E sempre haverá jornalistas buscando uma visão exclusiva do evento, como as fotos dos operários uniformizados cochilando em meio às obras que um jornal britânico publicou. Isso somado ao atraso no cronograma é como somar dois mais dois. Nessas horas, ninguém considera aspectos climáticos ou culturais tais como a dificuldade dos operários em voltar para casa no meio da jornada para almoçar e descansar um pouco. É mais apetitoso reforçar as insinuações sobre um estereotipo, carregado de preconceitos quanto à negligência, a indisciplina e ao caos.
Edu: Aos organizadores, o que resta, então, é que tudo isso esteja mais ou menos equacionado, que o pessoal especializado e treinado realize suas tarefas de relacionamento humano – fornecimento de serviços, informações, orientação, tradução, apoio logístico. Mas todos ficaremos em alerta quanto ao problema sério da segurança. Não é problema exclusivo do Rio, onde no amistoso contra a Inglaterra houve alguns incidentes, envolvendo inclusive um jornalista britânico. Ontem mesmo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, manifestava abertamente sua preocupação com a segurança pública, o que é um péssimo sinal quando falta apenas um ano para a Copa. Se o trânsito complicar, se houver problemas de acesso, se os hotéis e restaurantes subirem seus preços, o turista-torcedor vai chiar, mas é o que ele faz sempre, em qualquer lugar. Ainda assim, insisto, são problemas que podem ser amenizados com um bom tratamento e muita informação. Agora, se houver um assalto, um furto que seja ou incidentes mais graves – dos quais não estamos livres neste país -, aí sim a Confecup estará comprometida e, obviamente, com reflexos diretos em 2014.
Carles: Sejamos positivos, pois.