sexta-feira, 31 de maio de 2013

As ‘feras’ de Saldanha e outros bichos


Carles: Quem derrubou João Saldanha?
Edu: Nossa! Faz tempo hein...
Carles: É, mas é um assunto atual. Os treinadores continuam chocando com dirigentes, jogadores e perdendo o emprego.
Edu: Mas a história do Saldanha está muito acima dessas picuinhas idiotas. A começar por seu perfil político.
Carles: Então esquecemos a possibilidade de que o motivo teria sido não escalar o Pelé num amistoso contra o Chile? Prevalece o fato de ele ser comunista e não o de querer barrar um astro intocável. Também é estranha a história da miopia do Rei, não? Que eu me lembre, Saldanha teve até audiência com o então ministro Jarbas Passarinho, antes da queda.
Edu: Todas as histórias envolvendo o Saldanha, desde seu passado de militante do PCB até a tal versão sobre a miopia de Pelé, têm algo de misterioso e quixotesco. Mas a verdade é que Saldanha não era um ortodoxo do futebol e da vida, tinha um modo próprio de enfrentar as coisas que mexia com muitas sensibilidades e melindres. Não por acaso era chamado de ‘João sem Medo’. De uma coisa, depois de tudo o que li e vi na fase final da vida dele como cronista esportivo, tenho certeza: não foi uma razão política que tirou Saldanha da Copa de 1970, embora vivêssemos no auge da ditadura militar.
Carles: Então voltamos à tese da picuinha? De que num amistoso contra a Argentina em março de 1970, Saldanha cansou de pedir para o Pelé ajudar no meio de campo, na marcação e foi sistemática e acintosamente desobedecido. Contam as escassas histórias sobre os bastidores que o treinador não se entendia com a direção da Seleção, mas que o estopim foi que jogadores como Pelé, Gerson, Tostão, Carlos Alberto e Piazza questionavam a capacidade dele e se reuniam durante os treinos e concentrações para desenhar sua própria estrutura tática.
Edu: Saldanha era antes de mais nada um crítico ferrenho do futebol mesquinho e mal jogado, sem meias palavras. Tinha especial preferência por detonar os modelos adotados pela Seleção Brasileira desde o patético papel na Copa de 66. Quando foi escolhido para assumir a Seleção, já tinha um passado ativo como militante comunista e já era um dos principais cronistas esportivos do país. Ou seja, se havia alguma barreira ideológica, por que os militares deixariam a CBD chamar justamente um comunista para comandar um dos símbolos do país? A questão, portanto, era medir como funcionaria o choque de temperamentos numa Seleção que tinha divas e líderes como esses que você citou diante de um técnico com essa postura nada diplomática. Mas não acho que houve questionamento de capacidades, tanto que o time massacrou todos os adversários nas eliminatórias, quando os jogadores eram chamados de 'Feras do Saldanha'.
Carles: A coisa vai ficar aí, então, no eterno mistério. Como a morte do PC Farias ou a repentina doença do Tancredo? Proponho pelo menos um exercício, menos à base de teorias conspiratórias e mais de fogueira das vaidades. Tracemos um paralelo com um caso mais atual, do Barça, campeão de tudo que começou com um conjunto afinado e com pesos quase equivalente e que acabou cedendo 90% das honras a somente um jogador, ao que todos os companheiro veneram publicamente. Coincidência que esse processo tenha derivado na saída do treinador, que o time tenha certificado a dependência desse jogador e que o desempenho como equipe pareça estar em franca decadência? Está certo, a Seleção de 1970 venceu e convenceu. Transformou-se num mito, mas o que veio depois?
Edu: Espera aí, não foi tão simples assim. É evidente que, diante da pressão que pressupõe comandar a Seleção Brasileira às vésperas de uma Copa do Mundo, começaram a surgir problemas graves de relacionamento entre todos os segmentos - dirigentes, comissão técnica, jogadores, sob o olhar nada amistoso da imprensa, como, aliás, deve ser. Era um ambiente propício para algumas barbaridades e Saldanha não deixou de cometer erros graves que tornaram a situação insustentável às vésperas da Copa. Era mais do que suficiente para uma demissão. Aí, certamente, algum militar apareceu e deve ter dito: 'Também pudera, com um comunista no comando só podia dar nisso'. E Saldanha efetivamente reagiu a uma opinião do então presidente general Médici, que havia pedido o centroavante Dario, do Atlético Mineiro, como titular da Seleção. O técnico disse que o presidente tinha que se preocupar em escalar seus ministros. Pouco depois era demitido, o que reforça parte das teses conspiratórias. A maior dose de mistério está nos bastidores desse episódio, digamos, porque são passagens de difícil comprovação, uma vez que os principais personagens já não estão vivos.
Carles: Hahaha, muito bom, finalmente consegui provocar você… E não se esqueça do Rildo.
Edu: Não entendi...
Carles: O Saldanha queria o Rildo na lateral esquerda e também foi "voto" vencido.
Edu: Sei disso, quanto ao Rildo. Não entendi qual foi a provocação.
Carles: Nada, não, só uma brincadeira sobre os eternos mistérios do século passado nos trópicos. Bom, fico mais tranquilo com os seus esclarecimentos. Confesso que tive pesadelos na minha juventude tentando entender como personagens tão distintos como Pelé, Tostão, Rivelino, Piazza, Gerson, Clodoaldo pudessem se reunir para conspirar. Cheguei a temer que o fato de serem todos jogadores bastasse para pasteurizar crenças e pensamentos tão distintos. Ou quem sabe foi a passagem dos anos que os fez se distanciarem tanto?
Edu: Não houve mais insubordinações do que há normalmente num time futebol, até porque ninguém ali era santo. A verdade é que a equipe tricampeã no México foi montada pelo Saldanha, com pequenas mudanças. E nunca poderemos dizer que a saída dele foi motivada exclusivamente por razões políticas. Foi um conjunto de erros, crispações e crises, potencializados pela presença de um cara no comando que era incômodo ao regime. De todas as muitas obras e artigos sobre a trajetória do Saldanha, um livro explica com detalhes esse processo: 'João Saldanha, uma vida em jogo', de André Iki Siqueira.
Carles: Como sempre, ficamos aqui com essa boa sugestão de leitura, então. Prometendo voltar a amanhã um pouco menos desconfiados.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pep, entre hienas e brontossauros


Edu: Você soube do veto de Uli Hoeness a Neymar no Bayern de Munique?
Carles: Soube que Guardiola tinha pedido e que ele tinha vetado a contratação, mas não que fosse algo pessoal, relacionado com o garoto.
Edu: Pior, com os garotos brasileiros em geral, essa foi a justificativa.
Carles: Preconceito? Ou medo de fazer um negócio cheio de meandros, no momento em que está sendo investigado pelo fisco alemão? Bom, se esse fosse o motivo, Rossel também teria vetado.
Edu: Preconceito, prejulgamento, prepotência. Vários 'pres'. O caso do Breno, zagueiro ex-São Paulo, que teve um surto e pôs fogo na casa (ainda está detido na Alemanha) teria sido a razão, ou a desculpa. Na cabeça arejada de Hoeness, os jovens brasileiros são um negócio de risco. Mesmo o Neymar.
Carles: Ninguém é ingênuo de achar que garotos de 20 anos, cheios da grana, ídolos de massas, despreparados e recém-chegados a culturas diferentes, não vão dar um certo trabalho. É natural que esteja previsto um acompanhamento de perto durante a adaptação. Não é vigilância, orientação mesmo. Mas se o proprio Pep, quem provavelmente teria a maior responsabilidade nisso, achou que valia a pena, quem é Hoeness para vetar?
Edu: Falávamos outro dia da visível modernização do futebol alemão. Pois Hoeness é um brontossauro da velha Alemanha, está claro. E se foi uma recomendação de Guardiola, é um começo de trabalho que não poderia ser pior no Bayern. Pep pediu Neymar e recebeu Götze, com essa justificativa esfarrapada e discriminatória.
Carles: Estabeleçamos critérios, antes de seguirmos. Em que medida um jogador profissional de alto rendimento pode ser considerado uma mercadoria?
Edu: Para determinados cardeais, não tem medida, o céu é o limite. E esses cardeais não governam só na Alemanha. Estão aqui, aí, em todos os cantos. Mas ainda considero que muita gente importante pense de outra forma e garanta o que resta de humanização nesse esporte. Guardiola parece ser um deles. Lá mesmo na Alemanha, Klopp é outro.
Carles: É, mas Pep saiu de fininho, toccata e fuga de Rossel, para dar de frente com Hoeness. Quanto tempo vai aguentar? Para quando o próximo ano sabático?
Edu: Estamos vendo que a previsão se confirma: será um relacionamento pesado, ácido. Uma química nada fácil entre chefes germânicos e um líder latino. Mas você pode falar melhor que eu sobre as habilidades diplomáticas de Pep Guardiola.
Carles: Não é segredo que gosto do estilo dele, não costuma jogar a porcaria no ventilador, prefere proteger seus comandados. Foi assim no último ano de Barça, quando já se notava o desgaste, mas que em momento nenhum ele deixou transparecer. Requisito básico para quem tem que liderar um grupo de jovens. Vimos que, por exemplo, o estilo Mou é todo o contrário, ciumeira geral, rivaliza com os jogadores, cutuca em público e em privado, demonstrando, enfim, total falta de maturidade.
Edu: Não sei se essa reação do Hoeness é uma atitude para marcar território e deixar claro a Guardiola quem manda no pedaço ou se é uma aberração pessoal, o que me parece mais plausível vindo de quem vem, um cara que precisa prestar contas com a Justiça e está moralmente pressionado. Aí sobrou para o Neymar e para os brasileiros em geral. Mas, seja o que for, Guardiola terá uma experiência bastante diferente da que viveu em seu tempo de Barça, onde tinha razoável autonomia. Será um árduo aprendizado. Acho difícil ele conquistar a confiança dos jogadores logo de cara, apesar do carisma e do histórico que tem.
Carles: Só que lá no Barça, desde a posse de Sandro Rossel, teve que aprender a lidar com um estilo dissimulado. Às vezes é preferível enfrentar um brontossauro, uma ameaça sempre visível, do que uma hiena, não?
Edu: Mesmo assim, Carlão. Ele circulava num ambiente totalmente conhecido, cresceu ali, aprendeu futebol ali, tinha um certo controle sobre as pessoas, ainda que uma ou outra hiena. Travar uma relação mais próxima com a cultura alemã não é fácil, ainda mais em um clube com tamanha tradição, multicampeão, time da moda. Veremos agora o tamanho real do gabarito profissional de Pep Guardiola.
Carles: Um total incógnita, essa relação.
Edu: E como convém a um latino de raízes, o Brasil deu o troco. Exigiu a apresentação imediata na Seleção de Dante e Luís Gustavo, que o Bayern só queria liberar depois da decisão da Copa da Alemanha, no sábado. Como a Fifa respalda, os alemães não têm outra saída a não ser concordar. 
Carles: Espírito vingativo, represália, também não acho a melhor saída, inclusive porque acaba por condicionar o relacionamento dos jogadores com o empregador, que é o Bayern. Enquanto os cartolas insistirem no método do braço de ferro como política, tanto trabalhadores como simpatizantes seguirão sofrendo as consequências.
Edu: Nem sei se foi essa a ideia, de vingança. Mas aconteceu no mesmo dia e, portanto, não pode ser coincidência. De todo jeito, a CBF tinha esse direito, ou cortava os dois jogadores da Copa das Confederações.
Carles: Tá bom, não é vingança, vendeta, então. Coincidência? Pouco provável. Deixa ver se eu entendi. A CBF lê ou escuta ou confirma que o presidente do Bayern declarou que jogador brasileiro é sinônimo de confusão, e então decidem: vamos chamar os jogadores brasileiros do Bayern já! Faça-me o favor. "Son como críos".
Edu: Só confirma que há hienas e brontossauros por todos os lados.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Czar russo no Principado


 
Edu: O russo do Monaco conhece um pouco de futebol, pelo jeito. Mas será que James Rodriguez e Radamel Falcao valem, juntos, 105 milhões de euros?
Carles: Eu acho que com Falcao ele pretende garantir meio time. Falcao e família adoram grana, mas o colombiano gosta de se sentir importante. Não deve ficar muito tempo no Principado. Rumores apontam que na reunião em Zürich que manteve com os representantes do russo para fechar a sua transferência, o jogador pediu a inclusão de uma cláusula que permite e dá prioridade a Chelsea e Real Madrid (o contrato com o Atlético vetava a sua venda direta ao clube “blanco") para contratá-lo já em janeiro.
Edu: De qualquer forma é um reconhecimento ao futebol colombiano. Rodriguez é um jogador bastante criativo e equilibrado para quem tem 21 anos. É um preparador de jogadas para Falcao mas também sabe se apresentar para finalizar. Isso no futebol francês vai causar furor.
Carles: Foram 45 milhões por James Rodriguez?
Edu: Sim. E 25 milhões por João Moutinho!
Carles: Os colombianos também jogaram juntos no Porto, não?
Edu: Isso. E os três são representados pelo seu chegado português Jorge 'Mou' Mendes. Esse russo, Dmitry Rybolovlev, não parece estar brincando. Ele é da nova geração de investidores daquele pedaço, muito mais agressivo do que Abramovich e companhia. É o rei do potássio, está entre os 80 mais ricos da Forbes, vive como um nababo na Suíça e parece entender de futebol a julgar pelas ideias de levantar um time que já teve muito nome apesar da decadência dos últimos tempos. Além de negócios, é claro. Escolheu não por acaso um paraíso fiscal para montar seu projeto de avançar sobre o futebol do Ocidente.
Carles: É um plano perfeito. E Alberto Grimaldi gosta pouco de futebol, né? A última aparição estelar do clube na Europa foi quando da célebre desclassificação de Madrid  em quartos e Chelsea em semifinais, em 2004. Acabou caindo justamente diante do Porto na final. Então era o Monaco de Evra, Plasil, Rothen, Cissé, Giuly, Morientes, Adebayor, Prso, treinado por Didier Deschamps… o príncipe já deve ter saudade das noites de Champions vistas desde a tribuna de honra.
Edu: É verdade que competindo na França ele terá que se submeter, em parte, ao fisco, mas escolher um futebol de nível médio para investir e se garantir entre os grandes da Europa é uma mão na roda para aventuras desse porte. Como foi para o PSG, se bem que o volume de gastos dos árabes foi muito maior em Paris do que será no Principado. Houve mais desperdício também. O certo é que o Monaco, com os colombianos, Víctor Valdés, João Moutinho e muitos mais que virão, terá vaga certa na temporada 2014/2015 da Champions depois de ter subido de Segunda Divisão. O único problema - e aí já começo a duvidar um pouco dos conhecimentos do russo - é o técnico, que vocês conhecem bem.
Carles: Ranieri, quantas lembranças!!!
Edu: Deus me livre...
Carles: Estão sondando também o Dani Alves e se fala até no Diego López, já que Casillas deve voltar a ser titular no Real Madrid (nestas datas todos os representantes dedicam-se a especular e plantar notícias aqui e ali). O português Ricardo Carvalho, também jogador de Mendes, já foi para Monaco. Livre, sem custo.
Edu: Dani disse que não descarta uma transferência. Se bem que agora terá que servir de babá do Neymar. E tem também uma blitz para levar Carlitos Tevez. Será curioso ver Carlitos pelas ruas de Monte Carlo. Tudo a ver.
Carles: Verdade. O Barça mais do que nunca sabe da importância de Dani para a próxima temporadas e não exatamente como lateral direito. Tevez? Sempre os mesmos disponíveis, toda temporada, né? Os trotamundos.
Edu: Mas será um time forte, apesar do Ranieri. No contexto francês, um time fortíssimo, que pode até complicar para o PSG.
Carles: E como estamos especulando, falou-se também em Quique Sanches Flores para o posto de treinador. Mas nada como a elegância dos blazers de corte italiano do romano desfilando pela corte.
Edu: Por onde anda Quique?
Carles: Em finais de 2011 foi se refugiar no Al-Ahli, dos Emirados Árabes, depois das passagens não tão tranquilas por Valencia, Benfica e Atlético de Madrid.
Edu: Teria mais perfil para um projeto inovador. Ranieri é um desses mistérios do futebol. Tem uma longa carreira sem nenhum título importante conquistado – talvez a Copa Itália há mais de 15 anos e pouco coisa mais. Mas está sempre empregado e com times importantes no currículo. E é um especialista em jogo feio, horroroso eu diria, travado, defensivo. Temo pelo talento de James Rodrigues e mesmo pela anarquia de Tevez.
Carles: Como disse o sábio Sérgio Ramos, um treinador deve saber administrar um vestiário repleto de culturas e nacionalidades diversas. É exigência de currículo para o futebol atual. E, quanto a Ranieri, não se esqueça das gloriosas conquistas da Copa del Rey e Supercopa, quando esteve na minha terra natal, em Valencia. Segundo Mourinho, títulos importantes.
Edu: No padrão Ranieri.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Brasil verá a ‘Família Del Bosque’


Carles: O Marquês foi mais previsível que Felipão. Viu a lista do Del Bosque? Vai dar para encarar?
Edu: Bem conservador. Não arriscou nem com Isco, por exemplo.
Carles: Com o Isco, a história é parecida com a incorporação gradativa  de Juanín Mata, por exemplo. Lopetegui, treinador da sub-21, pediu pelamordedeus poder contar com ele. Ele já está concentrado com os moleques. Mas, sim, foi conservador o Marquês, não surpreendeu a não ser com Soldado, mas deve ser um dos descartados da lista definitiva, junto com Beñat e Javi Garcia.
Edu: Era só uma questão de pesar o que importa mais, o Sub-21 ou o time principal. O Marquês tem algo que não me agrada em treinador do tipo familiar: privilegia sua turma de sempre, por razões de confiança, não por desempenho técnico. Ao justificar, por exemplo, convocações como a de Fernando Torres, usou um de seus bordões favoritos: "Es uno de los nuestros". Ser "uno de los nuestros" não é explicação para escolher um jogador de seleção, me desculpe o Marquês. Só quer preservar o ambiente, porque certamente nenhum técnico que se preze levaria o Niño a uma seleção pelo que jogou nos últimos dois anos.
Carles: Estou de acordo em termos. Realmente uma seleção deve privilegiar desempenho, estado de forma e eventualmente chamar jogadores que possam oferecer alternativas de jogo ou diversificações reais nas combinações. Mas também é certo que os grupos selecionados se reúnem com frequência e por períodos mais curtos que os de um clube e um dos aspectos a ser considerado é o entrosamento técnico, tático e social. Mas, claro, esse critério deve ser só marginal aos meritórios.
Edu: O caso de Torres não oferece nem uma alternativa, a rigor. E o próprio Marquês comprovou isso, tanto na Copa/2010, quando ele foi um rotundo fracasso - em favor de Villa -, quanto na Euro/2012. Aí, como o time foi campeão nas duas ocasiões, tudo bem. Por outro lado, Isco teria uma importante chance de ganhar rodagem vindo ao Brasil, como parte de sua formação para 2014. O fato é que Del Bosque ainda confia em seu time titular tão cegamente que nem se importa muito com os reservas, parece. Tem uma certa razão até. Mas o grupo da Espanha na primeira fase é muito frágil e permitiria algumas experiências, além das variações que já utiliza, como o Jesus Navas de vez em quando, ou atuar sem centroavante fixo. Enfim... o cara é campeão do mundo, então tem aval moral para fazer o que bem entende. Não vi nenhuma crítica contundente em todos os jornais espanhóis.
Carles: Discordo de você nisso. Torres é sim uma clara alternativa de jogo. Única e imutável, esse é o problema. Quanto à reação da imprensa, eu diria que, como a ironia, as metáforas ou as entrelinhas não são o forte dos meus conterrâneos, não sei como interpretar as palavras de alguns meios informativos. Poucos mencionaram, de passagem,  que Del Bosque optou pela continuidade em detrimento do estado de forma, mas nada muito contundente. Vasculhando nas possíveis intenções, poderíamos considerar que estar na Copa das Confederações se deve às conquistas desse grupo e por isso se lhes permite concluir o projeto. Mas não deixava de ser uma oportunidade para ir dando cancha para alguns jovens. Não acredito em grandes arroubos do pausado Vicente. Não estou defendendo os critérios dele, só buscando pistas nesta e em próximas convocações.
Edu: E prefiro não insistir em falar de Cesc Fàbregas, em notória decadência mas que certamente será titular do Marquês... Em todo caso, nem sei se a Confederações é uma prioridade para o campeão mundial e europeu. Acho até que não. A maioria dos jogadores da 'Roja' vem aqui um tanto descontraída, já em clima de férias depois de uma temporada barra pesadíssima. Se ganhar, ganhou. Mas a Espanha tem hoje um prestígio que precisa ser defendido e, se levasse a sério, poderia levar o torneio. Não é a mesma situação do Brasil, que está condenado a jogar bem, e mesmo da Itália, que precisa confirmar sua recuperação para afastar desconfianças.
Carles: Não, não é prioridade mesmo. As contratações, as saídas de jogadores e de técnicos dos clubes e o convulsionado verão que tudo isso vai produzir têm privilégio no noticiário.  Assim mesmo, considero que seria uma conquista interessante, espantaria algumas desconfianças remanescentes, inclusive porque parece que é a versão mais séria das Copas da Confederações até agora. Quanto a Cesc, acho que pode ser um titular só eventual, no caso de falso 9, esquema que, estou inclinado a crer, tem os dias contados na ‘Roja’.
Edu: Opa, enfim uma luz para quem protegeu Cesc durante tanto tempo...
Carles: É o que eu acho que vai acontecer. Francesc necessita do alento da seleção como o ar que respira, ultimamente irrespirável para ele na casa blaugrana.
Edu: Provavelmente não veremos Cesc trocando passes com Neymar no Camp Nou?
Carles: Meu palpite é que Alexis e Cesc se salvam da queima. Portanto, nem é tão improvável.
Edu: Quem sabe, então, a Confederações seja a última oportunidade de Fàbregas, no lugar que provavelmente seria de Isco.
Carles: Boas atuações na Confederações poderiam servir pelo menos de justificativa para a permanência dele no Barça, que se transformou numa questão mais além do futebolístico. Ficar ele fica, basta saber se vai ser ou não goela abaixo, principalmente, de uma torcida que não perdoa incompetência.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Anarquia contra mesquinharia


Edu: Quem acompanha futebol em todos os cantos do mundo não pode deixar de constatar uma clara identidade destes tempos: muitos times, independente da escola, estão redescobrindo como é viável jogar no ataque. Nem é preciso analisar os grandes - a Real Sociedad, que você já citou algumas vezes aqui, parece ser assim.
Carles: É uma equipe que fez uma escolha. Sofre muitos gols nos últimos minutos, se bem que ontem, contra o Real Madrid (3 a 3), foi o contrário.
Edu: O espírito é esse: não dar demasiada importância para se defender.
Carles: O futebol historicamente é cíclico, não tenho dúvida de que essa é a nova tendência, doa a quem doer. Adeus Gatuso, adeus Albelda.
Edu: Não tenho certeza se é uma tendência estimulada pelo Barça, mas alguma influência teve. Os ingleses estão jogando assim, até o Chelsea melhorou quando soltou o time. E os alemães nem se fale.
Carles: É só não fazer ‘a lo loco’. Na decisão da Champions falávamos de pressão sobre as defesas, que o Barça de Guardiola fez como ninguém. Isso ele tirou do basquete, que começa a defender em outras áreas do campo, por zona, mas com a circulação dos jogadores em zonas mais reduzidas e de forma coordenada, muito coordenada. Só que mecanizar esses movimentos dá muito trabalho, treinamentos exaustivos e não é todo técnico que está disposto a isso.
Edu: Guardiola e o Barça, Klopp e o Dortmund e mesmo o Bayern são exemplos de 'sofisticação do risco'. É o risco bem pensado, assumido. Mas acho que é interessante também às vezes  fazer 'a lo loco'. Como parece que faz a Real Sociedad. O jogo ganha uma estética própria, de vanguarda. Quem poderia imaginar alguns anos atrás um empate em 5 a 5 numa partida entre United e West Bromwich, mesmo não valendo grande coisa para a classificação?
Carles: É, esse jogo exatamente já não decidia muita coisa. Lembro de uma partida da República Tcheca na Eurocopa de Portugal em que o treinador acabou tirando todos os zagueiros do time e foi ao ataque esquecendo completamente da defesa. Só um dos times assumiu o risco, um risco não calculado. O jogo foi vibrante, uma loucura mesmo. A mesquinharia, o jogo de via única, da armadilha pura e simples está em baixa. Abrir mão dos xerifões, aprender a fazer jogo desde uma zona normalmente reservada à destruição requer coragem, mas certamente vai marcar uma tendência para o futuro. Por aqui, é o Valencia, um time historicamente defensivo e ‘lutador’, que justamente disputa com a Real Sociedad a última vaga para disputar a próxima Champions. Seu treinador atual, Txingurri Valverde, de um nível intelectual acima da média, escalou neste fim de semana, dois jogadores de armação como volantes, ganhou e deu um passo importante para conseguir a vaga.
Edu: Você vai encontrar exemplos que justificam tudo, das formas mais inusitadas. A vantagem do anarquismo é que nunca haverá rotina e nunca faltará frenesi, esse ingrediente explosivo. E quando houver um anarquismo planejado, tanto melhor. Mas, friamente, não consigo ver o fim dos Gatusos, Dungas e Albeldas, enquanto houver técnicos que consigam títulos ou evitem rebaixamentos apostando na mesquinharia. Carlos Alberto Parreira aplicou na Seleção Brasileira de 1994 a doutrina do 'erro zero'. Fez aquilo lá que todo mundo viu e voltou com a taça. Para o brasileiro, é o exemplo mais clássico, mas a Itália, quatro vezes campeã mundial, ainda é o modelo universal mais contundente.
Carles: O tal ‘erro zero’ é da doutrina produtiva anglo-saxã e, tenho esperanças, está em decadência, como parte de uma realidade muito mais intuitiva. É coisa das próximas gerações, que não leem manuais de instruções e, no entanto, fazem qualquer aparelho funcionar. E bem. O modelo de jogador fixo, imóvel, com funções e zona de atuação marcadas e restritas não combina com essa nova funcionalidade. Tem ainda outro aspecto que favorece essa aparente desordem, talvez a decisiva: a voz do dono. Os mentores estão obrigados a oferecer mais do que resultados, o público exige divertir-se acima de tudo. Uma quantidade cada vez maior de pagantes são necessários e já não são suficientes só os torcedores que se deprimem ou se emocionam com o resultado do seu time.
Edu: Pensando bem, até gosto que existam as opções mesquinhas, é um diálogo entre o obsoleto e o moderno que de certa forma retroalimenta o futebol. É especialmente agradável ver esquemas rígidos sendo desmontados por um time de arruaceiros. Sinceridade? Quero que continuem sobrevivendo os Mourinhos, os Parreiras e o calcio tradicional. São essenciais para defendermos o contraponto.
Carles: Pode até ser, mas também é verdade que depois de um jogo em que um dos times conseguiu divertir e foi o outro, o mesquinho, que ganhou, eu, pelo menos, sinto uma certa frustração. E multiplica essa sensação de injustiça que está quase se normalizando.
Edu: É uma das leis de compensação que fazem o código eterno desse jogo, como numa partida decisiva decidida por um frango do goleiro, uma bobagem do árbitro. Injustiças como na vida. E gente defendendo coisas nas quais você não acredita também continua existindo. Mas quando a diversão se sobressai, a vitória é dupla - pela sua satisfação e pela frustração do outro.
Carles: Pois viva a anarquia. E a inteligência.

Versão em espanhol:

http://500es.blogspot.com.es/2013/05/anarquia-versus-mezquindad.html

domingo, 26 de maio de 2013

Lições de como ser grande

 






Fotos de Leo Marti Teixeira, diretamente de Wembley

Carles: O proletariado (quase) ao poder em Wembley?
Edu: Uma pena um time tão corajoso e atraente não ter prêmio maior. Mesmo assim foi bastante digno e deixou algumas boas lições. Ganhou um ótimo consolo: reconhecimento.
Carles: Lições como a conferência que acaba de dar à imprensa Klopp, dizendo que prometeu aos seus jogadores que vão voltar a uma final de Champions, em Lisboa (parou, pensou) talvez Lisboa não, Berlim, em dois anos, parece mais razoável. “Temos que reflexionar, comprar algum jogador, pois o Bayern nos tirou um”. Gênio e figura, não muito íntimo da bola, segundo o pai de Hummels que já foi seu treinador. Quiçá não como jogador, mas sim como treinador.
Edu: Klopp é, em pessoa, uma das lições de nobreza que ficam deste ano de mestrado do Dortmund. Sai fora dos padrões de técnicos contemporâneos, ou excessivamente passivos ou donos de um ego amazônico. Só mesmo um treinador com essa estatura de líder sem ser repressor poderia fazer a garotada do Borussia enfrentar de peito aberto um time tão preparado e eficiente como o Bayern. Durante um bom período do jogo parecia que o grupo poderoso vestia amarelo e preto. Que postura!
Carles: E, se analisarmos a promessa de disputar outra final é, na verdade, um compromisso pessoal, de seguir à frente do projeto mais dois anos, como mínimo. Imagino que seus jovens jogadores agradecerão o gesto carinhoso do líder e a sua lealdade ao grupo, num momento destes. Perguntaram a ele se Dante deveria ter recebido o segundo cartão amarelo no lance do pênalti e ele, elegantemente, pediu a opinião do entrevistador, concordando com a resposta afirmativa do jornalista. Um erro primário do zagueiro brasileiro, não?
Edu: Comprometedor e demonstrando forte desequilíbrio emocional àquela altura. Dante é um bom zagueiro, mas tem uma vivência longa apenas em times médios, só este ano triunfou em um grande. Fez coisas nesse jogo decisivo que não costuma fazer, por puro descontrole. E o segundo cartão era evidente naquele lance.
Carles: Em compensação, e não para puxar a sardinha para a minha brasa, achei que Javi Martinez fez um jogo sensacional. À sombra do brilho de algumas estrelas de primeira grandeza, mas um trabalho fantástico. Isso sem falar do espetáculo à parte dos goleiros.
Edu: Já tinha sido assim contra o Barça. Parece que se sente muito à vontade como backing vocal de Schweinsteiger e - para desespero de Felipão - é o tipo de meio-campista que sabe ser volante mas que também sabe o que faz com a bola nos pés. Sofreu no primeiro tempo com a pressão do Dortmund, mas soube buscar alternativas depois. Como todo Bayern, aliás. Só achei que o jogo caiu quando o Borussia não teve mais caixa para fazer aquela marcação agressiva. E o meio da defesa falhou demais.
Carles: Nos primeiros 20 minutos, eu diria, a pressão do Dortmund foi infernal. Mas é o tipo de pressão não posicional, e por isso diferente daquela do Barça no inicio do período de Guardiola. E nem alemão aguenta manter esse nível de pressão muito além desse tempo. É um risco porque é esgotadora, mas é uma tentativa de resolver o jogo no início, legítima sobretudo contra times letais, como o Bayern. Às vezes funciona quando o gol sai, às vezes não.
Edu: Mas resume justamente uma das maiores belezas do futebol: o risco. O Dortmund entra para as galerias dos grandes porque não se importa em assumir riscos. Foi assim o tempo todo nesta Champions, inclusive em situações extremas como no complicadíssimo confronto contra o Málaga. De alguma forma, Carlão, o proletariado chegou, sim, ao poder em Wembley. Quem daqui por diante não incluirá o Borussia Dortmund entre os temíveis da Europa?
Carles: O proletariado chegou e tratou a elite sem nenhum complexo, assustou até. Sempre que vejo um time jogar assim, torço para que o projeto perdure. Torço, mas temo, como todo europeu em tempos tão instáveis, em que times como o Deportivo de La Coruña, da primeira divisão do futebol espanhol, se veem obrigados a cortar gastos como a assinatura de TV a cabo com a qual o corpo técnico podia observar outras ligas, jovens valores, adversários.
Edu: Não acredito que o modelo do Dortmund tenha essa superficialidade, me parece algo bem mais consistente. A não ser que Senhora Merkel, atenta observadora ontem na tribuna, apronte alguma das suas.
Carles: Sempre tem esse risco. Longe de mim comparar o projeto do Dortmund com o  Depor, mesmo nos seus melhores anos, baseado em outro modelo de financiamento, nem tão admissível. E não é superficialidade, não, é a água batendo no pescoço. O que eu quero dizer é que as coisas mudam muito rapidamente por aqui, ultimamente, e poucas vezes para melhor. Mas voltemos à final, e ao vencedor. Que futuro terá uma equipe que atropelou todos os adversários que encontrou pelo caminho, que pode acabar a temporada conquistando todos os títulos importantes disputados e que decidiu trocar de técnico? E não por um técnico que costuma aceitar projetos herdados.
Edu: O Bayern de Pep, boa dúvida. Dou um palpite: haverá um período de transição em que Guardiola vai preferir continuar vencendo com parte dessa estrutura atual, e, dependendo dos resultados, terá condições de pouco a pouco impor seu modelito. Lembre-se de que não é fácil o trato com os cartolas germânicos. É, disparado, o maior abacaxi para o seu ídolo no primeiro ano de Alemanha.
Carles: Um desafio, sem dúvida, e também acho mais aconselhável agir com prudência, aderir à meia verdade de que não se mexe em time que está ganhando. E para começar, nem bem chegue ao novo clube, já vai disputar o primeiro título europeu da temporada, a Supercopa, em jogo único e logo contra quem? Contra o Chelsea de Mou!!!!
Edu: Melhor começo impossível.

sábado, 25 de maio de 2013

Entre Wembley e o Brasileirão







Imagens do estádio de Wembley momentos antes do início da partida.
Especialmente enviadas por Leo Marti Teixeira

Edu: No dia da decisão da Champions começa o Campeonato Brasileiro.
Carles: Hummmmm, verdade.
Edu: Cada um se diverte com o que pode.
Carles: Nem é essa a questão. Algum brilhante pensador do futebol brasileiro deve ter chegado à conclusão de que, finalizada a temporada de jogo e iniciada a temporada de caça aos craques, seria a hora de instalar a grande vitrine do Brasileirão.
Edu: Não acho que foi pensado, não. Na verdade, o Brasileiro cabe em sete meses e adaptaram o resto do tempo aos torneios regionais e à Copa do Brasil. Tanto que, todos os anos, tem uma trombada com as fases decisivas da Libertadores.
Carles: E trombada com as datas Fifa. Tem alguns jogos da Seleção Brasileira que coincidem com rodadas, às vezes importantes. Isso não acontece por aqui. Na pior das hipóteses e algumas vezes, quando a seleção joga pode ter rodada de Segundona, que é um campeonato um pouco mais longo que o de Primeira.
Edu: E neste ano aqui temos dois agravantes: será um campeonato estranho por causa da provável saída de alguns grandes nomes dos principais favoritos (Paulinho, Bernard, Neymar, Ralf, Leandro Damião), como há algum tempo não acontecia, e o torneio terá uma interrupção de um mês por conta da Copa das Confederações. Talvez por isso a decisão entre os alemães na Europa tem sido quase tão falada por aqui nestes dias quanto o início do Brasileirão.
Carles: Bom, mas é até normal que o campeonato comece frio e vá esquentando. Bernard está de saída?
Edu: Tem proposta da Alemanha, ao que tudo indica do Dortmund. Tem perfil mesmo para aquele time jovem.
Carles: Verdade. Bom destino e sem quase nenhuma pressão, pode dar certo.
Edu: Vai terminar a formação dele, inclusive física, numa ótima escola. É um garoto que tem virtudes técnicas inegáveis e evoluiu muito taticamente também.
Carles: Tudo bem, a crème de la crème está de saída. E as perspectivas de renovação, do surgimento de novas revelações? Sei que os ânimos não são os melhores, mas não será um pessimismo exagerado? Sempre acabam surgindo novos craques, mesmo em uma entressafra.
Edu: Eu diria que nem há muito pessimismo, Carlão. Há, sim, um certo desinteresse porque o foco por um tempo estará na Seleção. E o fato de saírem algumas estrelas sempre abala um pouco. Mas o futebol brasileiro tem essa virtude de apresentar, por pior que seja o momento, alguma novidade. E o Brasileirão é muito longo, tem tempo de renovar o interesse.
Carles: Eu aposto por isso também. O Corinthians sem a dupla Ralf-Paulinho, o Atlético sem Bernard, o Santos sem Neymar… com tanto teórico favorito perdendo suas principais peças, quais as suas indicações?
Edu: Mesmo assim, Corinthians e Atlético saem na frente, porque têm uma estrutura firme. Junto com Inter, Botafogo e Fluminense, talvez. São Paulo e Grêmio vêm em seguida. Mas temo por times tradicionais como Santos, Vasco, Flamengo e mesmo Cruzeiro.
Carles: Surpreende, pelo menos a quem acompanha o quase dia a dia de longe, a presença do São Paulo. Pensei que a crise fosse mais profunda.
Edu: Tem uma crise aí, sem dúvida. Mas é um time com bom elenco, assim como o Grêmio. Precisa de ajustes técnicos importantes, mas não deixa de ser um concorrente de respeito. Não é o que acontece com Santos e Flamengo, por exemplo, que contrataram muito mal nos últimos tempos e esfacelaram suas equipes. Muito jogador remediado, alguns refugos. O mesmo vale para o Cruzeiro, que ainda tenta se reforçar.
Carles: E uma eventual surpresa, de onde poderia vir? Li que a Lusa luta para não ser rebaixada…
Edu: A Lusinha, sempre simpática e sempre na corda bamba. Quando ganhou a Série B do Brasileiro chegou a ser chamada de 'Barcelusa', era uma goleada atrás da outra. Agora, acaba de voltar à Série A do Campeonato Paulista, pra você ter uma ideia da situação. Mas nunca se sabe o que vai acontecer lá na parte de baixo da tabela. Sempre há surpresas por ali, basta ver onde o Palmeiras está neste ano. E as surpresas também acontecem nas posições intermediárias, com times que tem tradição em complicar para os grandes, como Coritiba, Ponte Preta, Vitória...
Carles: Então fiquemos de olho na primeira rodada e fazendo zapping para Wembley. Torcendo pelo Dortmund, mas temendo pela sorte do time revelação contra o todo poderoso compatriota. E mais, sem Götze. Será a hora e a vez de Reus?
Edu: Boto muita fé em Marco Reus, acho até mais decisivo - se bem que menos talentoso - que Götze. E poucas horas depois Corinthians e Botafogo, campeões de São Paulo e Rio, fazem o jogo das faixas. Ao menos um bom começo para o Campeonato Brasileiro.