Edu:
Você conseguiu ver alguma novidade daí que não vimos daqui?
Carles: Para
mim o desempenho da comissão técnica brasileira foi pior do que o esperado. Fica a
minha dúvida se o Felipão faz essas coisas para bancar o marrudo ou porque está
completamente desorientado.
Edu:
Ou as duas coisas, um marrudo desorientado.
Carles:
Não vou nem discutir o esquema tático, mas ele foi capaz de variar o próprio
esquema, através de substituições, três
ou quatro vezes durante o jogo e com intervalos de cinco ou dez minutos. Não há
esquema nem equipe que se consolide assim. Entra atacante por volante. Passam
uns minutos, sai atacante e entra volante e assim por diante. Sinceramente,
fiquei sem entender. Você pode me explicar?
Edu:
Claro que não.
Carles:
Tem mais. No primeiro tempo, além da bonita camisa da Inglaterra, gostei do
Oscar. Logo depois do intervalo, ele tira o garoto e só quando o Lucas
encontrou sua posição no time, o Brasil voltou a dar trabalho à defesa da
Inglaterra. Foi só eu que vi isso?
Edu:
Vimos todos, mas, ao contrário do que ocorreu com você, o desempenho da
comissão técnica para mim não foi pior do que o esperado. É exatamente o que
espero de Feliparreira, como definiu um nosso fiel leitor hoje. Mexer quando
não se deve, sem critério, e, principalmente, em quem não se deve é uma marca
registrada de Felipão. Tomou o empate? Vamos fechar. Tomou a virada? Vamos
abrir. Empatou de novo? Vamos mexer de novo. E ninguém providenciou um GPS para
o nosso Flinstone. Perdidinho.
Carles:
É engraçado que no auge da "tarde dos volantes", quando maior era a
quantidade desses espécimes povoando o ainda deficiente gramado do Maracanã, foi
então que os zagueiros brasileiros receberam mais ataques frontais do adversário. No
segundo gol da Inglaterra, Rooney faz uma diagonal com a bola dominada, sem
quase ser combatido, David Luiz foi recuando, recuando, até que o atacante
inglês finalizou e, se não me engano, a bola roçou nas costas do Fernando, acentuando a
parábola. O que esse estilo de treinador tem que entender é que não é
suficiente colocar em campo um determinado perfil de jogador, mas a importância
de como posicioná-los além de orientá-los na movimentação, em função do resto
da equipe, dos objetivos táticos e das circunstância do jogo.
Edu:
A bola desviou no Fernando, sim. E havia, sim, uma avenida diante da defesa
quando estavam três volantes em campo. A virtude de perceber o óbvio também é
atributo de técnico de futebol. Como é atributo de jogador. Xavi, um de seus
preferidos (e meu também), sempre ressalta que as jogadas óbvias e mais simples
são as mais eficientes. Mas na Seleção Brasileira há uma inversão de valores.
Ninguém se preocupou em controlar a ansiedade de Dani Alves, o cara que mais
perdeu passes no jogo. Nem em acertar a posição de Hulk, que começou pela
direita e depois ficou dividindo um corredor com Neymar, inutilmente, entre a
ponta e a meia esquerda. Além disso, o time nunca tinha treinado com três
volantes. Mas Oscar, quem mais criou no primeiro tempo ao lado de Neymar, saiu
rapidinho depois do intervalo sem nenhuma explicação. E Paulinho, no momento em
que foi jogar onde efetivamente sabe, mais à frente, foi substituído logo
depois de fazer o gol. Será que o objetivo é confundir?
Carles: Diante do que vimos hoje, existe uma grande probabilidade. E, para complicar, confirma-se a baixa forma de Júlio César. Digo mais, é
visível a falta de preparação técnica e física do goleiro e não acho que
escalá-lo como titular seja um favor. Ele ficou devendo depois da última Copa e,
nessas condições, pode virar uma piada na memória do torcedor. Nunca foi um dos
meus goleiros favoritos, mas também seria injusto que fosse essa a
lembrança da sua carreira. Resumindo, acumulam-se as decisões equivocadas da
comissão técnica.
Edu:
Júlio, você sabe, é questão interna, é preferência absoluta do Parreira. Não acho
que vão mexer nele, a menos que falhe sucessivamente. As outras decisões, ou
não-decisões, é que são mais e mais preocupantes, reforçando a falta de coluna
vertebral da Seleção. Por exemplo: não veremos jamais, ao que consta, Lucas e
Oscar no mesmo time. Não importa que Oscar seja um cara que circule por todo o
campo, enquanto Lucas funciona mais pela direita e em diagonal. Para a comissão
eles são incompatíveis e nada vai mudar isso. Outro exemplo: Hulk. Não é nenhum
grossão, mas destoa num futebol de toque. Só que, como é um touro, tem meio
caminho andado. Você deve ter reparado que o time que começou foi reforçado por
três caras mais altos e fortes, Luiz Gustavo, Filipe Luís e Hulk.
Carles:
E o Hulk caindo pela direita, o velho truque do canhoto entrando em diagonal
para arrastar o lateral e deixar aberto para o Dani. No quadro negro, muito
bonito, só que apesar do Alves ser o lateral mais ofensivo da face da terra,
ele não tem profundidade, costuma chegar até a altura da linha da área grande e,
dali, faz a maioria dos passes ao centro da área. Portanto, não só não saiu a
jogada como eles estavam absolutamente descoordenados, porque provavelmente
também não tinham treinado juntos. Outro problema é que para permitir essa
diagonal, é conveniente diminuir o número de jogadores pelo meio, inclusive do
próprio time, e isso tampouco ocorreu, com a presença constante e inexplicável
de Neymar por ali. Só melhorou quando Oscar passou a jogar pela direita. O
resto da história já contamos.
Edu:
E é bom lembrar que tudo isso aconteceu contra um adversário conservador,
desinteressado, preguiçoso e que fez dois gols de treino. Não quero e prometo
que não vou ouvir as explicações de Felipão. Teria que apelar a um estoque de
ansiolíticos para suportar. E ando preferindo um bom suco de manga.
Carles: Pode ser só uma sensação, mas a tudo isso que
você disse eu acrescentaria que a seleção inglesa vivia um day after, conhecido
entre nós por "tremendo ressacão" (e não de suco de manga). Não será essa a estratégia de
Felipão-Parreira e a gente aqui menosprezando a inteligência deles?
6 comentários:
Gentlemen,
Eu acho que o Felipãp sabe que só tem 11 jogadores e nenhum reserva em nível de seleção. Talvez 12, se considerarmos Hernanes e Fernando como opções táticas. Com 11 jogadores não se ganha nem Torneio Início.
Hulk, Bernard e Damião são patéticos. A carência é tão grande que muita gente pede a convocação de Ronaldinho Gaúcho.
A esperança é a penúltima que morre, pois a última é a paciência. O problema não é tático, é falta de opções mesmo.
P.S. Tentei assistir São x Atlético Mineiro, com Ronaldinho e seus dribles torcicolo. Ridículo. No meu tempo a várzea era melhor.
Eu quis dizer São Paulo x Atlético Mineiro.
Desta vez discordamos, Salles. É nessas horas, quando o time não tem tantos craques, que um sistema mínimo precisa funcionar. E a Seleção está longe de ter um... Abraço
Detesto concordar, mas você tirou as palavras do meu teclado, Zé.
Abraço ao Salles e boa sorte ao seu tricolor.
Não sei se isso é discordar, caros amigos.
Eu concordo que não há um desenho em campo, mas acho que nenhum treinador dará jeito nesse elenco.
Duvido que cheguem à semifinal, se houver arbritagem honesta.
Vamos ver.
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