Carles: Ainda se questiona muito por aqui se o Brasil
vai estar pronto para um evento como a Copa do Mundo, seja pelo calendário das
obras, pela infraestrutura hoteleira, transporte ou segurança. O Carnaval e,
depois, a Copa das Confederações serão os eventos de repercussão internacional
que antecedem a Copa. Pergunto: como vai tudo? Existe perspectiva de redução
nos índices de criminalidade, por exemplo, durante este carnaval?
Edu: Sempre é um teste para as
autoridades. Mas a logística e o alcance dos eventos são bem diferentes.
Carles: Durante o Carnaval o fluxo de
turismo estrangeiro continua sendo muito importante, não?
Edu: No Carnaval, em princípio, todo
mundo sabe onde estão os problemas. Nas grandes aglomerações, nas festas de
rua, eventualmente nas redondezas dos desfiles. Acho que fica mais fácil
controlar porque acontece o que se espera. O próprio turista vem pronto para
uma certa bagunça e automaticamente se protege. E o tipo de turista é
diferente, o folião é diferente.
Carles: Claro, mas é sempre um laboratório.
Edu: Sim, sim, um ótimo laboratório... Só
que eu diria que uma Copa tem mais surpresas, pelo tipo de público, pelas
diferenças entre as sedes, pela longa duração do evento e, principalmente
porque o turista não vem apenas para ver os jogos. Ele quer circular, quer
conhecer os restaurantes, passar o dia na praia, frequentar as baladas. Ele é
um alvo mais móvel, diluído e fica mais complicado o controle de segurança. É
uma das preocupações reais da organização da Copa no Brasil, muito mais do que
os estádios e as obras de infraestrutura.
Carles: Provavelmente, pela duração do
evento, é assim mesmo. Porém, o Carnaval e a Copa das Confederações estão pelo
caminho até a Copa, para provar e comprovar. Que espírito vigora por aí,
aumentou a confiança de que se pode realizar uma festa à altura do esperado? Uma
festa como todos esperam do Brasil e sem os incidentes que os mais céticos
preveem? Porque a relação com festa, dança e alegria não pode ser negada, ainda
que pareça um estereótipo.
Edu: Ainda é cedo para entusiasmo,
Carlão. Acho que a Copa das Confederações pode ser o momento da virada. É claro
que a demanda de otimismo cresce quando o acontecimento se aproxima, mas por
enquanto a fase ainda é de dúvidas, principalmente porque o cidadão fica
exposto ao noticiário negativo, com uma parte da mídia fustigando muito,
atacando por todas as frentes, questionando até o que não precisa de
questionamento e esquecendo coisas mais importantes. Tanto é que essa questão
grave da segurança é assunto ainda periférico, ninguém se deu conta do problema
com a devida seriedade. Ou seja, ainda não é hora de festa, mas acho normal.
Carles: Sei que existe uma parte influente
da imprensa que tem interesses em desacreditar o esforço oficial e o da
iniciativa privada, mas isso a gente discute outro dia. Hoje quero saber como o
brasileiro está esperando um fato de tamanha magnitude. Como será a primeira
copa que se realiza num Brasil teoricamente mais integrado pelos meios de
transporte, já que em 1950 as dimensões do torneio eram outras. Como vai se
realizar um evento que dura um mês em um país-continente? Sim, porque me parece
que os senhores da Fifa preferem a extensão, já que a Copa do Mundo na Ásia e as
Eurocopas recentes foram entregues a uma dupla de organizadores.
Edu: Lógico, eles, da Fifa, têm como
princípio a política da quantidade, por razões expansionistas e financeiras
óbvias. Mas, sinceramente, o brasileiro quer muito a Copa. O cara que mora em
Cuiabá está há quatro cinco anos só pensando nisso. Há muita gente se
esforçando honestamente para dar certo e muitas pessoas estão se movimentando,
fazendo o conhecimento se espalhar, se capacitando. Sem oba-oba. Esse é o
grande legado da Copa: a formação de pessoas, o desenvolvimento das pessoas. E,
claro, o entusiasmo pelo futebol pode coroar isso.
Carles: E os aeroportos? Os voos domésticos
são mais acessíveis ao bolso de todo mundo ou o evento é mesmo para inglês ver?
Edu: Não, não, nada é muito acessível a
todo mundo. Não vejo a menor chance de isso acontecer numa Copa do Mundo aqui
ou em qualquer lugar. Essa é outra discussão para horas. O fato é que o povo
participa da Copa em várias frentes, algumas periféricas, mas raramente indo
aos jogos. O que temos aqui, neste momento? Aeroporto é problema grave,
segurança também - já falamos -, tem a questão dos hotéis, da mobilidade urbana
e também das comunicações, porque alguns pontos do país ainda possuem de uma
tecnologia rudimentar de comunicação. Muitas dessas coisas estão andando,
outras estão mais lentas, mas é lógico que a interferência do Governo vai fazer
a coisa funcionar, principalmente porque 2014 é ano de eleição.
Carles: Boa lembrança. Eleição em novembro e
Copa no meio do ano. A propósito, ainda sobre o Carnaval, uma dúvida mais mundana:
sabe se o Marcelo, o Kaká ou o Dani Alves saem em alguma escola de samba, neste
ano?
Edu: Acho que não. E não faz muito o
gênero do Kaká né?
Carles: Era só uma brincadeira. É que quando
o Ronaldo Fenômeno jogava por aqui dizem que ele alegou estar contundido e na
cena seguinte estava em cima de um carro alegórico, sambando.
Edu: A nova geração é mais politicamente
correta. Talvez isso explique a fase meio raquítica do futebol brasileiro.
Carles: Verdade, maior responsabilidade
profissional ou produtos melhor embalados, quem sabe? Em todo caso, boa folia!
Edu: Tô fora!
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