Edu: Que tal? Bem movimentada né?
Carles: De mão única. O pessoal de Valencia
não acompanhou o ritmo do garoto.
Edu: Engraçado este início de trajetória
do Lucas na Europa. Na França parecem maravilhados com menos de um mês de PSG.
Contra o Valência fez duas ou três coisinhas e encantou a Espanha. Nem acho que
seja um fenômeno, mas garanto que vocês ainda não viram praticamente nada do
verdadeiro Lucas.
Carles: Bom, eu já tinha visto algo dele
por aí no Brasil e, desculpe-me, mas na minha opinião, na terça-feira ele fez
um partidaço. Inclusive porque assimilou perfeitamente do jogo em equipe. Por
isso deu a impressão de que só fez duas coisinhas. Quando foi acionado e foi
muito, fez o melhor possível – solto, veloz e com habilidade. Os mais
conservadores diriam até que ele foi individualista, mas, para o meu gosto, foi
perfeito.
Edu: Não, não, ele foi bem, sim, mas para
o pouco que foi exigido. Só acho que chamou mais a atenção por ter feito, em
meio tempo, o que o time todo não fez: teve iniciativa. E foi incomparavelmente
melhor que o Ibra. Mas o Lucas é um jogador muito intenso, capaz de fazer 20
grandes jogadas numa partida. Talvez ainda estejamos muito acostumados a isso
aqui no Brasil. E ninguém se conformou com o Ancelotti ter tirado ele de campo
com cinco minutos do segundo tempo. Coisas de um retranqueiro, apesar de o
Lucas ter sofrido uma contusão leve.
Carles: Creio que o Ancelotti com essa
atitude ofendeu os valencianistas, porque considerou o jogo ganho e quis poupar
o Lucas. Claro que não perdeu a oportunidade de colocar um jogador defensivo no
lugar.
Edu: Ele é bem defensivista, desde
sempre. Do contrário teria colocado o Menez e não um volantão como o Clément
Chantôme. E não conheço tão bem o time do Valência assim, mas que tipo de
marcação mais dura poderiam fazer? Tem todo esse material humano? O Valverde é
tão milagreiro assim?
Carles: Considero o Ernesto ‘Txingurri’ (formiga,
em basco) Valverde um bom treinador. Aliás foi o pioneiro da nova
filosofia do Athletic de Bilbao. Com ele no comando, vimos o primeiro Athletic
de jogo vistoso e ofensivo. Quanto ao Valencia, está de capa caída, a cada seis
meses vende seus jogadores valorizados para pagar as dívidas. Diria até que faz
um bom papel com o material humano de que dispõe. Ricardo Costa e Rami são
voluntariosos. E ponto. O Banega, ex-futura-estrela argentina não toma jeito na
vida e isso reflete no rendimento dele em campo.
Edu: Em Paris, no jogo de volta, você vê
o Valência buscando o ataque?
Carles: Ou dá ou desce, né meu amigo, caso
não busque o ataque, você vê outra alternativa? Tem que fazer dois gols ou
adeus à Champions, o gol do Rami nos descontos só garante prorrogação no caso
de sofrer um gol. Mas muda pouco.
Edu: Então acho que o time não escapa de
uma goleada. É jogo ideal para Lucas e Lavezzi, ainda mais que o Ibra não vai
jogar. Os dois terão mais espaços e não terão aquele sueco intimidador berrando
no ouvido deles. Certamente o Pastore também fica mais à vontade.
Carles: Bingo.
Edu: O Lucas precisa disso: sentir-se à
vontade.
Carles: É, mas vai ter que entender esquema
tático, se não já nasceu morto. A não ser que atinja um status de prestígio
como o de Messi ou Cristiano, que têm outros 10 jogando para eles.
Edu: Lucas tem uma trajetória
interessante. Surgiu na mesma época do Neymar, um pouco à sombra dele, fizeram
carreira juntos nas seleções de base. Não conseguiu escapar de uma comparação
com o cara mais badalado do futebol do Brasil. Mas não tenho dúvida - eu e
muita gente - de que está mais pronto para a Europa do que o Neymar.
Carles: Talvez porque não chegou a sofrer
tanto o acosso da mídia, não esteve tanto sob os focos como o Neymar. Veio com
um pouco menos de responsabilidade.
Edu: Isso teve influência, sim. Boa
influência, menos pressão. Mas ele também tem boa noção tática, é privilegiado
fisicamente e muito concentrado. Só precisa disso que você viu um pouco em
Valência: jogar solto. Com responsabilidade, mas solto.
Carles: Olha, se vocês administrarem bem o
jogo de egos, com jogadores como Lucas, Neymar, Oscar, não têm do que se
queixar. E mais com gente aplicada mas talentosa como Paulinho no meio...
Edu: Curioso é que o Lucas se retraiu na
Seleção Principal. Acho que ainda não teve um técnico que desse a moral que ele
precisa. Não foi o Mano nem será o Felipão. Mas pode ser, sim, um trio de
craques de respeito para o Brasil de 2014.
Carles: Eu ponho no meu time.
Edu: Você e Mourinho. O português andou
namorando o Lucas um tempo. Mas parece que era muito caro para o Florentino.
Carles: E é religioso, como os dirigentes
aqui gostam.
Edu: Mas é um padrão diferente de bom
moço. Não faz o tipo monge, gosta das coisas que os jovens gostam, também vai
às suas baladas. Mas é extremamente disciplinado, nunca cometeu um deslize
grave no São Paulo. Por isso, fez a cabeça dos europeus.
Carles: Alguns dirigentes acham que ao
contratar os jogadores brasileiros religiosos estão prevenindo uma possível
vida de festas e discotecas. Ledo engano. Bom, não conheço detalhes da vida
privada do Lucas, mas melhor para ele, poderá usufruir as delícias de Paris sem
descuidar da carreira.
Edu: Acho que precisamos entrar mais em
detalhes sobre esse assunto do conceito que os grandes times europeus têm dos
brasileiros adeptos de uma vida mais agitada. Aí na Espanha, por exemplo, já
teve de tudo. Os dois Ronaldos ganharam o título de Melhor do Mundo no auge das
baladas. E jogadores como Kaká e Rivaldo, praticamente santos, também ganharam.
Então, qual é a lógica? Por que Barça e Real Madrid, por exemplo, não se
dedicam a uma política de orientação em vez de se limitarem a controlar, vigiar
e punir? A proposta de um post sobre esse tema está lançada.
Carles: Meia verdade. Sabe como é…
fazer a cama e deitar na lama e, por outro lado, os engravatados sempre tem uma
visão preconceituosa dos artistas, é certo… aceito a proposta, tem pano pra
manga.
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