quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Neymar, sinal de alerta

 
Edu: Para que servem jogos amistosos?
Carles: Para arrecadar para as federações, direta ou indiretamente. E desgastar o patrimônio dos clubes, ou seja, os jogadores.
Edu: No aspecto técnico, para você, nunca funciona?
Carles: Poucas vezes.
Edu: Deveria funcionar, ao menos?
Carles: No caso da Espanha, por exemplo, em que os jogadores encaram os amistosos sem nenhum entusiasmo, chega a comprometer a reputação inclusive.
Edu: E no caso da Espanha, esse de ontem, logo ali, no Catar, me parece bastante inútil...
Carles: Totalmente inútil.
Edu: Não acho que os amistosos normalmente sejam inúteis. Nem considero que as federações não devam arrecadar com isso. Não é problema nenhum arrecadar. Submeter os jogadores, isso sim, é uma sacanagem com os clubes. Mesmo assim, no mínimo o amistoso contra um adversário de nível deveria significar uma espécie de investigação de laboratório, uma prova de campo. E o Brasil costuma jogar pela janela essas chances, ou por desinteresse ou por burrice mesmo de quem comanda.
Carles: Não acho que a federação tenha o direito de arrecadar utilizando empregados alheios como não acredito no serviço militar obrigatório. Além da integridade física dos jogadores, coloca-se em risco o prestígio das seleções. Se são feitas experiências, corre-se o risco de colher resultados ruins, comprometedores, se forem utilizados os titulares, desgastam-se ou podem ocorrer contusões. Nos times daqui, o ‘day after’ ao reservado às seleções é conhecido como ‘vírus FIFA’. Ontem, ao menos, a boa notícia para a Espanha foi estreia do Isco, conhecem?
Edu: Não vou discutir hoje gestão do futebol com você, nem vou contestar a comparação descabida com o serviço militar. Mas conhecemos, sim, o Isco, do Málaga, ótima revelação. Entrou contra o Uruguai desde o início?
Carles: Não, no segundo tempo. Coincidência, vi o Isco jogar pela primeira vez numa noite de Novembro de 2010 pela copa do Rei e estávamos tendo uma das nossas conversas 'amigáveis' por Skype. Ele era juvenil e o Unai Emery, então treinador, colocou-o contra o Leganés. Isco fez dois golaços e eu comentei com você, acabo de ver o futuro craque da Espanha. Recorda-me o Kaká dos bons tempos, é hábil, veloz, forte, não costuma levar a bola tão grudada no pé como por exemplo o David Silva. Imagino que vai ser do tipo de jogador que dependerá da boa forma física para não cair de rendimento.
Edu: Aí é que está. Acho que esses amistosos servem muito para esse tipo de jogador se graduar, tirar a cara para fora dos provincianos campeonatos regionais. Digo mais: o contraponto do Isco ontem foi o Neymar. E a situação do Neymar, embora isso seja tratado por aqui de forma muito superficial, é muito preocupante.
Carles: Bom, se o Luís Fabiano fizer uma partida medíocre não é notícia, o Neymar não ser brilhante no mínimo vira manchete. Mas não acho que um amistoso entre seleções seja a única alternativa ao ambiente provinciano, a Champions tem um ambiente inigualável. É o único torneio que consegue dar glamour a uma partida tecnicamente ruim. Tem uma carga emocional muito forte. Eu prefiro, sinceramente. Bom, você sabe o que eu acho de hinos, bandeiras e pátrias, né?
Edu: Claro que um jogo de Champions é melhor que amistoso né Carlão, francamente. O que estou dizendo é que o Neymar sistematicamente fracassa nos principais campos de provas, como um amistoso desses contra a Inglaterra. Tem sido assim, é recorrente. Se o principal jogador do Brasil não sabe ser testado, sucumbe com adversários minimamente respeitados, estamos bem pior do que parece. Começo a dar razão aos que dizem que ele precisa sair do Brasil urgente.
Carles: Um banho de mundo não viria mal, nem a ele nem a ninguém. É o melhor aprendizado.
Edu: Tem um dado que o entorno dele não percebe, aliás, percebe e o protege disso. É muito fácil a vida dele no Santos. Ele é dono do time, joga como gosta, tem liberdade para fazer o que quer. Não está muito acostumado a formar parte de uma equipe de peso, com outras formas de jogo, padrões de deslocamento e troca de bolas, objetividade coletiva. É um problema técnico monstruoso para o principal jogador do país. E a pressão sobre ele é praticamente nula. Ao contrário, é oba-oba dia após dia.
Carles: Acomodação profissional não é mal unico de jogadores de futebol. Supostamente é uma proteção mais mercadológica como a que se faz ao Cristiano Ronaldo, Aliás, o aniversário de ambos é no mesmo dia. É provável mesmo que o Neymar tenha atingido seu limite máximo no Brasil e precise enfrentar novos desafios.
Edu: Seguramente ele nem tem consciência de que está acomodado, porque, na verdade, ele não é um jogador acomodado na essência. Mas acha que vai resolver fácil as coisas em qualquer lugar. Não é assim, nunca foi assim. Pode ser essa proteção mercadológica mesmo. Nem tenho ideia de como ele reagiria jogando no Barça, por exemplo. É uma grande incógnita.
Carles: Imagine o prejuízo de umas das muitas empresas ligadas a ele se a imagem do patrocinado é danificada. O Barça, temo, é implacável. Aconteceu com Ibrahimovic que não rendeu o suficiente. O Dani Alves só está lá ainda porque joga muito e, além disso, o seu jogo cai como uma luva no esquema do Braça. Villa está por um fio, Cuenca, que desabrochou como um novo craque, foi emprestado ao Ajax etc, etc.
Edu: Seria uma nova vida para o Neymar, com novos rigores profissionais, talvez a grande saída para ele hoje em dia. O fato é que quando é exigido na Seleção, ele emperra. Todo o contrário do Oscar, que ontem mais uma vez provou que já está graduado. Parece tímido, não tem aquela pirotecnia do Neymar, mas joga bola como sabe, como faz sempre, seja contra quem for. De qualquer jeito, esse seria um trabalho para um técnico sensível. E não é o nosso caso. Nem Muricy no Santos, muito menos Felipão.
Carles: Você acha que se alguém chamar o Felipão de sensível na cara, ele parte pra briga?
Edu: Não tenha dúvida. Aliás, não tem sensibilidade e é totalmente previsível. Fez ontem exatamente o que temíamos e reproduzimos num post anterior: não só segurou o Paulinho, como o Ramires também, eles praticamente não passaram do meio-campo. E no segundo tempo trocou os dois por dois volantes tradicionais...
Carles: Você ainda tinha alguma esperança de que ele usasse um esquema alternativo, que tivesse arejado as ideias?
Edu: Ah não, nenhuma.
Carles: Entre mortos e feridos, o que sobrou do amistoso contra a Inglaterra? No nosso caso, na vitória contra o Uruguai, considero a presença segura do Valdés no lugar do Casillas, além do Isco, que certamente chegou para ficar entre o grupo dos 15 principais jogadores da seleção espanhola.
Edu: Então, palmas para Isco, Valdés, Oscar. E só.

Um comentário:

Fernanda Miranda disse...

Os Implicantes disse...
O Neymar no Santos é cômodo pra todo mundo, pro time, pra ele, pro pai, pros patrocinadores brasileiros e pra organização da copa do mundo no brasil... afinal, o mundial está aí e o país precisa de uma referência dentro de campo... isso também deve ter pesado na negociação do pato, posso apostar que a vinda dele ao brasil também está atrelada ao mundial. E na lista do Oscar também podemos colocar o Lucas, que não tem se intimidado no PSG. abraços...