Edu:
Falávamos outro dia da fase aguda de aprendizado do garoto que gosta de
futebol, algo entre os 6 e os 12 anos. Se imaginarmos a quantidade amazônica de
moleques que, nessa faixa, batem uma bolinha nas escolas, os clubes, nos
descampados e nas ruas, fica difícil entender com surgem tão poucos craques.
Obviamente que existe uma seleção natural em função da qualidade, mas ainda
assim é muita gente jogando futebol. Será que os craques estão por aí e o mundo
do futebol é incompetente para descobrir onde?
Carles: Não tenho a menor sombra de dúvida de que os que chegam nem sempre
são os melhores e que, muitas vezes, alguns ou vários dos melhores acabam
ficando pelo caminho. Existe uma série de circunstâncias que não ajudam a que
todos os craques em potencial se transformem em futebolistas estelares.
Inclusive porque muitos não estão dispostos a enfrentar os aspectos menos amigáveis
do esporte de alta competição. Além de talento, ou melhor, mais do que o
talento, é necessário disposição para passar anos e anos dedicando-se ao que
pode virar nada. O apoio do entorno familiar que também deve mostrar máxima
disposição ao risco, é decisivo. Fui testemunha ocular de uma ou outra peneira
realizada pelo Valencia em que os meninos entravam em campo e tinham que
demonstrar em cinco minutos que valiam o investimento do clube. Talvez tempo
mais do que suficiente para aquele craque diferente se sobressair (se não for
tímido). Só que o pior é que, durante os rachões, técnicos e olheiros muitas
vezes nem olham para os meninos jogando, e tudo depende do famoso QI - quem
indica.
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