Edu:
Foi uma semana de bombardeio sobre o Neymar a respeito de sua decantada
transferência para o Barça. Coincidiu com uma sequência de jogos em que ele não
foi bem e o pessoal resolveu pegar no pé sobre uma saída para a Europa antes da
Copa. Imagino que por aí tenha repercutido muito.
Carles:
Esteve nos principais programas esportivos de rádio. Ou muito me engano ou
futuro dele está muito perto do Barça. Ele quer e o Barça quer. http://www.cope.es/player/id=2013030800210001&activo=10
Edu:
Só se falou nisso por aqui. Até o Muricy disse na sexta-feira que o caminho
natural é ele ir para o Barça e que ele, Muricy, de certa forma torce por isso.
Mas como tudo que envolve o Neymar tem repercussão redobrada, fica parecendo
mais uma cortina de fumaça pela fase, que definitivamente não é boa. Mais do
que ninguém no futebol brasileiro, Neymar é instrumento da perversidade de
mercado de que tanto falamos aqui. Parece que ele estava levando bem, mas
ultimamente tem dado uns sinais de esgotamento. Isso aos 21 anos que acaba de
cumprir.
Carles:
Também vimos as declarações do Muricy aqui. É obvio que qualquer um de nós,
quando está de saída de um trabalho, por muito responsável e profissional que
seja, já está com a cabeça na outra empresa, no projeto de futuro. Fica muito
difícil concentrar-se. Imagina aos 21 anos e com tanta fama? Ele é o único
jogador fora do eixo europeu com tamanha repercussão, né?
Edu:
O retrato pessoal do Neymar neste momento é que é problemático. Ele é acompanhado
obrigatoriamente em todos os lugares por aquele séquito de assessores,
amiguetes, puxa-sacos. Fica fácil imaginar quanta gente palpita na vida dele. O
pai comanda a principal empresa da família, um grupo trata da imagem, outro
controla os compromissos, há a gravação de dois novos comerciais, no mínimo, a
cada semana. O clube aceita qualquer coisa, porque foi uma exigência para que
ele permanecesse. Há um entorno imenso de aproveitadores e gente que promove festas
e eventos sociais para ele. Ainda tem a namorada que é celebridade global e o
cara tem que jogar, porque se fizer três partidas ruins seguidas a pressão se
torna insuportável. Pergunto: está ou não esgotada a trajetória dele no Brasil?
Carles:
A minha impressão é de que ele está no Brasil só de corpo presente, mas com a
cabeça em outra latitude, na que eu me encontro para ser mais exato. O problema
é só para a Seleção, porque o Santos deve estar esfregando as mãos. A questão é
quando ele chegar ao novo clube e perceber que tem que provar tudo de novo, vai
ser alvo dos olhares críticos e todo esse séquito vai dar em nada porque estará
fora do hábitat natural. Apesar da gente que possa vir com ele, se as coisas
não funcionarem como se espera, Neymar vai se sentir só, pode ter certeza. E aí
sim a prova vai ser dura.
Edu:
Certamente o Barça ou qualquer clube europeu de ponta não vai permitir essa
pentelhação em torno do garoto. A mudança prevê uma limpa nesse pessoal que
vive à sombra do Neymar e talvez seja isso que ainda impeça sua transferência,
o peso de ter esse bando pendente dele, ainda de muitos sejam assessores
competentes. Mas um choque de profissionalismo, uma nova realidade, é
fundamental para o futuro do Neymar.
Carles:
Por muito ingênuo que ele possa ser, acho que prevê essa passagem de certa
forma traumática, e duvido que não sinta um frio na barriga. Mas você ainda tem
dúvidas de que ele venha para o Barça?
Edu:
Não, não tenho. Acho que nem ele tem. A questão é por quanto tempo essa tortura
vai se prolongar. O Barça, pelo visto, não pode fazer mais nada. A decisão é
toda do Neymar e do seu staff. Obviamente é de se esperar um período difícil de
adaptação em um clube onde ele será mais um. Craque, sim, porém mais um. No
Santos ele é soberano.
Carles: Se
você prestar atenção na entrevista ele deixa mesmo as portas abertas ao Barça.
Assisti ao jogo do Barça neste sábado pela ESPN latina e os comentaristas, de
origem argentina, analisavam a dificuldade de jogar neste Barça atual sendo
estrangeiro, justamente o contrário do que acontecia no clube só faz alguns
anos. É um agravante na sua adaptação. No começo vai ser uma festa para a
torcida, sobretudo porque representaria uma vitória sobre o arquiinimigo. Mas o
ceticismo vai predominar em seguida, pode ter certeza.
Edu:
Pode ser essa a razão de tanta hesitação, falta de confiança pessoal. O garoto
ainda não está seguro de como vai se encaixar no time que ele considera dos
sonhos e de como vai se encaixar na estrutura administrativa do Barça.
Carles:
Ele vai tentar fazer o jogo dele, impressionar, vai estranhar os terrenos,
escorregar literalmente e já vejo aqueles velhinhos dizendo: ‘es un petardo’… Já
vi esse filme.
Edu:
Tanta assessoria, tanta gente cuidando da imagem e ninguém capaz de uma
orientação técnica segura. É uma pena.
Carles:
Mas toda essa cambada está só esperando o grande salto, a venda, para beliscar
a parte deles. Mesmo que isso represente o fracasso do garoto. Porque o futuro
que cada uma dessas aves de rapina esperam é a concretização do negócio. Só que
o futuro de Neymar começa exatamente aí.
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