Carles:
Você acha que Tito e Roura leem 500 a.C.?
Edu:
Acho que não, mas deveriam.
Carles:
Vi muita coisa em campo do que nós comentamos aqui antes do jogo.
Edu:
Por exemplo?
Carles:
Iniesta pelo centro foi fundamental para a primeira hora de jogo, para abrir o
campo de verdade. O Villa entrando como isca para os centrais para dar mais
liberdade ao Messi.
Edu:
Mas o Villa você era contra, ou não? Entendi que você achava uma mudança muito
merreca.
Carles:
Eu disse que simplesmente a entrada do Villa não valia, era necessário
flexibilizar o modelo de jogo. Vitor Valdés alçou mais bolas diretas só neste
jogo que em todos estes anos. Não é uma jogada típica nem louvável em si mesma,
mas significa variar o repertório. Um aviso ao adversário: tem alguém
explorando as costas. Esse foi o papel de Villa e não jogar encostado à lateral
da área.
Edu:
Pois eu já acho que a grande mudança foi a fome de jogo desde o primeiro
momento, a velha e boa postura modelo Barça. As questões táticas - Villa
segurando os centrais, o Iniesta flutuando e Dani Alves mais à frente - o time
já usou outras vezes, não chega a ser novidade.
Carles:
Na verdade, no Barça, o Villa raramente tinha feito essa função, mas isso é só
um detalhe. O Barça tinha esquecido as variáveis do seu jogo pelo caminho e só
recuperou hoje porque eles mesmos criaram os espaços em vez de embolar. Ajudou
também o descanso, voltaram a recuperar muitas bolas lá na frente. Sem descanso
físico não tem entusiasmo. O Villa jogou como na seleção e o Jordi Alba idem.
Edu:
Fica fácil analisar do alto de um 4 a 0. Tudo é adaptável às teses nessas
ocasiões.
Carles:
Recomendo que você releia o post de antes do jogo. Então, a eliminatória estava
0 a 2. O modelo da Roja é o do Barça, mas talvez o Barça tenha recuperado um
pouco do modelo original, e justamente calcando a seleção.
Edu:
Um comentarista daqui também falou em 'grande mudança tática', que o time
voltou a jogar como com o Guardiola e essas coisas, algumas parecidas com sua
tese... Mas tenho muitas dúvidas sobre tantas mudanças assim. Sei que as bolas
entraram, o Messi fez um golaço no início, o que já deixou o Milan abalado, e o
garoto francês, Nyang, perdeu um gol feito meio minuto antes do segundo do
Messi. Tenho a impressão de que só eu vejo o jogo de uma forma mais simples.
Pode ser simplista.
Carles:
O jogo não passou aí? Eu não diria mudanças, chamaria de flexibilidade ou
evolução. Vai me dizer que também não viu o partidaço do Busquets?
Edu: Ok, prometo fazer um esforço de memória para enxergar todas essas
nuances táticas - com o Busquests incluído no pacote. Vou fingir que o Milan é
um supertime, que foi uma aula de tática e que não foi a gigantesca
superioridade técnica que fez com que o Barça ganhasse com autoridade. E vou me
penitenciar por ter considerado que, no primeiro confronto, o Barça sumiu e
desta vez voltou a jogar como sempre fez.
Carles:
O Milan não é um supertime. Dissemos antes que o pior inimigo do Barça nesta eliminatória
era ele mesmo e isso ele conseguiu vencer. Conseguiu deixar de ser ensimesmado.
E o que aconteceu no Camp Nou não é uma super-revolução tática, mas um
posicionamento que permitiu a bola voltar a circular e nas poucas vezes que foi
preciso defender não fazê-lo como o time do colégio que sempre coloca os
grossos lá atrás. O único lance de perigo do MIlan foi um erro individual do
"jefecito" (esse gol perdido pelo Nyang).
Edu:
Só sei que aprendemos, todos, a ver o Barça 'achicando espacios' lá na frente,
pressionando o adversários na saída de bola. Aprendemos a ver Iniesta, Xavi e
Messi sempre energéticos e comandando as iniciativas. Aprendemos a ver o Barça
abrindo o jogo para o Dani Alves e se virando lá atrás para segurar os
contra-ataques. Tudo isso, que vem dando certo há três ou quatro anos,
aconteceu neste jogo e não tinha acontecido em Milão. Ou seja, o Barça voltou a
ser Barça. O resto pode ser dito livremente. O futebol, você sabe, normalmente
é um grande delírio democrático.
Carles: Certamente,
o grande benefício deste jogo para o Barça pode ter sido o fato de recuperar o
tal entusiasmo que você reclama. Agora, tudo depende de se essa "energia"
vai ser utilizada com a inteligência que pareceu-me ver hoje. Sigo acreditando
que futebol é um jogo de inteligência e que a adrenalina ajuda , mas o excesso
pode atrapalhar, inclusive.
Edu:
Só lamento o arcebispo de Barcelona, Lluis Sistach, ter perdido o jogo por
causa de um compromisso que tem nestes dias. E o pior é que nem pôde tirar uma
onda do seu colega de Milão, Angelo Scola, que também estava no retiro
preparando a segunda sessão do conclave. Os cardeais boleiros também sofrem...
Carles: Você acha que eles não viram? Em todo caso, no
fim de semana veremos se habemus
Barça.
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