Edu:
Uma das notícias mais comentadas nesta semana por aqui - que até que me provem
o contrário tem cheiro de falácia - foi uma suposta proposta de mais de 20
milhões de euros do Bayern pelo cara que estabiliza o meio-campo do
Corinthians: Ralf. Pep Guardiola estaria querendo fazer de Ralf o seu Busquets de
Munique?
Carles:
Não me parece um pedido do Pep, por muito que eu ache o Ralf capaz de emular o
Busquets. Javi Martinez foi contratado pelo Bayern junto ao Athletic de Bilbao
e não o vejo jogando na zaga bávara. Se Javi foi sondado pelo Barça quando Pep
era ainda o treinador, por uma simples regra de tres, não parece que ele esteja
procurando um substituto para o navarro. Você, vê o Ralf triunfando no Bayern?
Edu:
Vejo o Ralf triunfando em qualquer time minimamente organizado. É um cara de
esquema, desprovido de qualquer vaidade, a essência do jogador que atua em
função da eficiência do time. Aliás, não vejo Ralf emulando Busquets, de forma
alguma, apesar de algumas características parecidas. Ralf é muito mais sério.
Só acho que Guardiola pode estar procurando alguém desse perfil, um cara de
esquema, seguro e de equipe. E andei vendo que houve uma certa decepção com o
Javi Martinez na Alemanha, embora a chegada do Guardiola deve dar uma força
óbvia para o volante espanhol.
Carles:
Achei muita grana pelo Javi, muita responsabilidade. Provavelmente o Guardiola
possa revigorá-lo, mas, que eu saiba, ele não é de dar moleza para ninguém,
seja quem for e de onde for. É possível que sem De Marcos ou Muniaim, Martinez
não seja o mesmo. Resistirá o Ralf à ausência do Paulinho? Mais sério que o
Sérgio, você diz. O cara é seríssimo, então. Espero que você não esteja se deixando
se levar pela tietagem.
Edu:
Você sabe bem que nunca achei Busquests um cara à altura do Barça. Também não é
mau jogador, não estou míope a esse ponto. Mas é um cara às vezes indolente
demais em um time que precisa de alguém que não falhe naquela posição, porque o
ponto forte do time é dali para a frente. Além de tudo é às vezes maldoso e um
tanto exagerado quando sofre faltas, faz aquela encenação de menino sofrido,
palmatória do mundo, para que a galera do Camp Nou fique solidária. Sempre
achei que Mascherano naquela posição, que é a que ele conhece mesmo, daria
muito mais certo no Barça. Mas é claro que nunca iriam trocar um produto
autêntico de La Masia pelo ‘jefecito’. Seria uma blasfêmia.
Carles:
Ledo engano, Mascherano é muito querido no Camp Nou (e acho que pelo resto de
torcidas dos clubes por onde passou). Pelo visto, a visão do orgulho da Masia
está chegando meio distorcida por aí. Se tem uma coisa de que a torcida ‘culé’
pode se vangloriar é de ser inteligente e justa. Se o Mascherano for melhor
para o jogo do Barça não vai haver nenhum problema. Ele é um grande volante
defensor, mesmo, só que muito mais estático que o Busquets.
Edu:
Eu já acho uma estupidez submeter um cara com os recursos do Mascherano a uma
posição de zagueiro de ofício. Tanto que várias vezes o Barça amargou momentos
delicados por ali. Em vez de contratarem aquela inutilidade do Song deveriam
promover o ‘Jefecito’ para a posição que ele conhece bem - onde fez sucesso em
todos os clubes por que passou - e contratar um zagueiro de verdade. E, me
desculpe, mas Busquets tem tudo, menos mobilidade. Nesse ponto é muito parecido
como Ralf: chega na área cinco ou seis vezes por temporada se tanto e faz três
ou quatro gols por ano e olhe lá. Olhe os números.
Carles: Esse
é o caminho fácil, ortodoxo, nada no Barça é assim. Por lá não serve a frase
"não se mexe em time que está ganhando". Se não fosse assim, não
teria se transformado numa das páginas de inovação na história do futebol. E
não só uma vez. Acho que você viu pouco o Busquets. No começo ele chegava muito
mais, mas teve que se definir como cabeça de área, dentro do que isso significa
num jogo móvel como o do Barça. A chegada do Jordi Alba (muito diferente do
estilo de Abidal) que junto com o Dani faz tudo menos defender, Busquets foi
obrigado a fixar-se muito mais. E a história do Song está mal contada, quem sabe
veio no pacote do Cesc e ninguém pensou nisso. E se você prestar atenção, o
Mascherano ocupa uma posição lá trás, mas a função é a de um volante, fazendo
diagonais para cobrir os lançamentos do time adversário. O problema é que no
Barça ele faz isso desde a última linha o que o coloca em situações mais do que
delicadas. Entretanto, como disse, a torcida ‘culé’ é inteligente, entende isso
perfeitamente e nunca o responsabilizou por nenhum erro. Talvez ele mesmo tenha
se sentido responsável, porque é um grande profissional.
Edu:
Bom, depois dessa catilinária, que mais posso dizer? Ainda bem que o Busquets
está aí e o Ralf aqui. Mesmo porque acho improvável que o Bayern pague tanto
por um volante tradicional (que certamente daria certo por lá) e não por um outro
meio-campista muito mais moderno e quatro anos mais novo, como o Paulinho, que
além tudo faz o que se espera de um sul-americano: gols.
Carles:
Em uma coisa creio que estaremos de acordo: todos eles padecem do mesmo
problema, jogar na posição mais ingrata de todas. Sabemos do que estamos falando, ambos andamos
brincando um pouco nessa zona do campo faz uns quantos anos, ou estou enganado?
Edu:
Se bem que eu jogava mais na criação.
Carles: Provavelmente o Busquets e o Ralf vão contar a
mesma coisa para os netos…
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