Carles:
Acho que pouca gente se lembra de que o detentor do recorde mundial de títulos por
seleções é um pais com pouco mais de 3 milhões de habitantes, carinhosamente
chamado “Paisito”.
Edu: Se
for o Uruguai é preciso levar em conta que muitos desses títulos são do antigo
Campeonato Sul Americano de Seleções, hoje Copa América, que eles sempre
valorizaram muito mais do que argentinos e brasileiros. Mesmo assim é um país
de excepcional história no futebol... E, sobretudo, um formador de craques.
Carles:
Primeiro campeão mundial da história. Desde lá chegaram craques para fazer
parte da história do futebol brasileiro: Pedro Rocha, Rodolfo Rodriguez, Pablo
Forlan, pai de outro craque que passou por aqui, também fez história e hoje
joga no Inter de Porto Alegre, considerado o melhor jogador da última Copa do
Mundo. Você deve lembrar de mais uns quantos, não?
Edu:
Esses aí foram muito marcantes, mas vieram também Daryo Pereira, Hugo de León,
uma estirpe de zagueiros impecáveis e de forte capacidade de liderança. É
preciso ressaltar que o Uruguai construiu o primeiro grande estádio da América
Latina, o Centenário, onde surgiu a mística da 'Celeste', que fez o que fez com
o Brasil em 1950.
Carles:
A construção do Estádio Centenário remove outras questões que atormentam o
futebol brasileiro atual. Se não me falha a memória foi construído especialmente
para o mundial de 1930. Só que o torneio começou e as obras do estádio ainda
não estavam concluídas. Além disso e do pesadelo do "Maracanazo", os ‘charruas’
protagonizaram outro célebre episódio do futebol brasileiro, durante a Taça do Atlântico de 1976: a perseguição pelo campo do lateral Sérgio Ramirez a Rivelino, que acabou descendo a escadaria
do vestiário de traseiro, lembra?
Edu:
A maior bizarrice da carreira do Riva, claro que lembro. Essas passagens
folclóricas envolvendo os uruguaios são de certa forma uma injustiça com sua
história brilhante. Basta lembrar dos caras que também tiveram passagens
marcantes na Europa, de Enzo Francescoli a Recoba. É claro que, hoje, mesmo com
Luisito Suarez e Forlan e a campanha na África do Sul, o time não é sombra do
passado. Mas não estamos livres de ver um
perigosíssimo Uruguai na Copa. Aliás, entre as passagens folclóricas
está a contratação pelo Corinthians no fim da década de 70 de um certo Martin
Taborda. Você deve lembrar: foi recebido com festa no Parque São Jorge e se
tornou um dos maiores fiascos da história do clube.
Carles:
Houve quem pensasse, ao ver os primeiros toques de Toborda na bola, de que
havia ocorrido um engano na contratação… Ele chegou no vácuo do Hugo de León.
Dos atuais, acho o Luis Suarez um grande jogador e vive o seu melhor momento no
Liverpool. Contudo, a Celeste é sempre um mistério nos mundiais. Havia muita
expectativa em 74 com um grupo cheio de craques e acabou perdendo o rumo diante
da Holanda. Teve a honra de ser a primeira vítima da grande Laranja Mecânica.
Na África do Sul em compensação acabou surpreendendo.
Edu: O principal de tudo, me parece, nesse país
pequeno e com um perfil distinto das grandes potências do futebol é a
fidelidade a um estilo, que tem um pouco de Brasil e Argentina, mas também uma
característica própria de entrega, que não despreza a habilidade.
Carles:
É isso, um estilo próprio, muito provavelmente porque, apesar de que costumam
ser confundidos com os argentinos, oferecem um padrão às vezes próximo ao
brasileiro, na cadência. Sempre existiu uma proximidade cultural. Montevidéu
foi território português durante muito tempo contrariando o Tratado de
Tordesillas. Muitos sobrenomes, como Pereyra, Fonseca e Tabarez, denotam essa
influência.
Edu: Aliás, esse nome merece um destaque especial.
Oscar Tabarez é definitivamente um técnico muito acima da média. E de postura
impecável.
Carles: Mas
enfrenta o problema do envelhecimento da seleção. Forlan já tem 33 anos, Lugano
tem 32. Cavani parecia ser o grande candidato para substituir o artilheiro mas
vive certa irregularidade na Liga Italiana. Parece que renasceu neste fim de
semana, depois de mais de um mês sem marcar.
Edu:
Pois é, o time está em situação ruim nas Eliminatórias: quinto lugar, atrás da
Venezuela. Mas um ataque com Forlan, Cavani e Luisito merece respeito. Acho que
o principal problema que Tabarez está administrando é, além da questão da idade
de alguns de seus líderes, há uma certa soberba que sobrou da ressaca da
campanha na Copa de 2012. Pode ser que os resultados ruins recentes tenham dado
uma chacoalhada no time, que entra agora no momento de decisão.
Carles: Assim
mesmo, temos que admitir que é meritório fazer grandes seleções num universo
que é um sexto da população paulistana. Isso anima o pessoal da Catalunya a
seguir reivindicando a sua própria seleção para um dos próximos mundiais.
Edu:
Sonha Carlão, sonha...
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