Edu: Fiquei com uma impressão
ruim das últimas partidas que assisti do Thiago Alcântara. E parece que não só
eu... O garoto tem sido criticado. Sábado, contra o Celta, foi mal outra vez,
parece ser uma crise de confiança. Mas sempre ficam aquelas dúvidas: o que
fazer com um jovem que parece ter potencial de craque? Compensa promovê-lo o
quanto antes, mesmo que o time não tenha necessidade? Ou é melhor cautela
absoluta, mesmo correndo-se o risco de o cara desanimar e seu futebol minguar?
Há muitos casos de garotos-promessas que sucumbem à falta de oportunidades...
Carles: No caso de Thiago, tenho
a impressão de que ele está coibido, travado, de uns tempos para cá. Como já
comentamos aqui, ele é um híbrido entre o jogo "irresponsável" e a
necessidade de absoluta precisão. O ideal para o seu desenvolvimento seria
poder aprender sem medo de errar, o medo que chegou de vez depois de alguns
erros que originaram gols adversários. Na seleção sub-23 ele se sente mais
importante, é evidente. O jogo de Vigo teve um agravante para Thiago, o de voltar
à sua cidade de origem, apesar de realmente ter nascido na Itália, em Brindisi,
quando o pai (Mazinho) jogava pela Fiorentina. A alta competitividade faz
muitas vítimas, sim. A qualidade nem sempre é o passaporte, às vezes vemos
jogadores de menor qualidade conseguirem uma cadeira cativa num time de
primeiro nível e na seleção, como comentamos no post de ontem.
Edu: É claro que fica
complicado para o moleque ter o mínimo controle da situação sendo substituto do
Xavi. Aí entra o papel do treinador, da equipe técnica, enfim. Eximir o cara de
responsabilidade não é um bom caminho, não é didático, mas deve haver um jeito
de esse peso ser amenizado. O fato é que há jovens que sentem menos, de acordo
com o tamanho da expectativa. É o caso de Tello, por exemplo, que oscila
tecnicamente porque seu jogo é assim, me parece, não porque sinta o peso de
entrar no grande time do Barça. Além do que joga em uma posição menos
comprometedora.
Carles: A posição de Tello
compromete menos porque é menos vertebral na estrutura do time. A do Thiago, em
contrapartido, é uma instituição no Barça, é o ícone ‘culé’, por isso é tão difícil
que alguém receba esse bastão sem traumas. Mais do que uma substituição é um
ritual de outorga. Foi assim com o Xavi. Quase ninguém se lembra, mas ele vivia
uma crise de jogo quando Ronaldinho chegou e ajudou a que se transformasse no
ídolo que é hoje. A fase inicial de Ronaldinho foi fundamental para que o jogo
de Xavi se definisse e se desenvolvesse. Uns meses antes esteve a ponto de
deixar o clube.
Edu: É outra prova de que cada
um tem a sua forma de adquirir confiança, apesar de as circunstâncias serem
importantíssimas. Quem pensaria hoje em dia no Barça sem Xavi? Temos aqui
alguns exemplos bem significativos dessa questão de tornar a responsabilidade menos
espinhosa e 'quitar presión' dos meninos. Santos e Corinthians promoveram
recentemente jovens em situação de nem tanta emergência. O Corinthians utilizou
em alguns jogos do Campeonato Paulista o zagueiro Felipe. Não havia nenhuma pressão
especial e, talvez por isso, o rapaz se saiu muito bem. O Santos, por outro
lado, precisava de um atacante eficaz, porque os antigos titulares não têm sido
boa companhia para Neymar. Giva, de 20 anos, entrou no time sem nada a perder,
embora mais pressionado que Felipe - e foi ainda melhor, ganhou a posição.
Carles: Felipe é o companheiro de
zaga do Marquinhos na conquista da Taça São Paulo 2012? Se é ele, parece que
havia interesse do Manchester United.
Edu: Não, o parceiro de
Marquinhos era o Antonio Carlos, que foi sondado pelos times de Manchester.
Felipe é dois anos mais velho.
Carles: Olha, não sei se o Thiago
vai acabar triunfando no Barça ou vai repetir a história de Bojan Krkić, mas é
preciso reconhecer que o Barça até dá muitas chances e dosifica o lançamento
dos meninos, se comparado com outros clubes grandes. Aliás, Thiago e Bojan além
de bons amigos e parceiros de pebolim e boliche, compartem outra questão - a
superproteção paterna, o que acaba por fragilizá-los frente ao mundo real. Uma
reportagem emitida esta semana pela emissora de TV aberta Antena3 mostra a
pressão e o excesso de responsabilidade que os garotos recebem desde cedo dos
pais. A grande maioria imagina que os seus filhos serão o novo Messi. A
reportagem refere-se à constante necessidade de assistência psicológica quando
os garotos ainda estão nas divisões de base.
Edu: E essa história da
pressão do Mazinho sobre o filho é palpável e nociva. Nesta semana ele cometeu
o erro grave de, numa entrevista, dizer que se o filho não tiver mais minutos
no Barça não faltará time para ele jogar. É uma péssima hora para se manifestar
com esse padrão de agressividade. Lembra até aqueles pais ‘sem noção’ de
tenistas, que, além de sobrecarregar os filhos, criam problemas com o resto da
humanidade. Contra o Celta, time em que atuou e bem, Mazinho estava na
tribuna...
Carles: Parecia o Touro Sentado
nas arquibancadas de Balaídos.
Edu: E com olhar reprovador...
Carles: Eu diria ameaçador. Não
acho que ele esteja ajudando o filho colocando-o nessa situação de constante
desafio ao clube. Thiago nunca acaba de se sentir parte da casa, o que, como
sabemos, seria mais do que meio caminho para se fixar no time do Barça. Costuma
ser um problema que pai e representante coincidam na mesma figura, porque
dificulta tanto uma negociação objetiva, como a perspectiva mais crítica do
atleta da sua relação com a instituição.
Edu: O resultado é que, hoje,
Thiago está mais para eterna promessa, como Bojan, do que para futuro titular
do Barça. Vai ter que jogar muito para provar o contrário.
Carles: Apesar
disso, Thiago sempre demonstrou uma maior personalidade que Bojan, pelo menos
nas aparições públicas e entrevistas. Contudo só o futuro dirá se ele será mais
uma ‘ex-futura-promessa’.
Um comentário:
He aquí el vídeo al que hago referencia en el post. Habría que aclarar que el trabajo de los psicólogos deportivos que, según el vídeo, podría parecer enfocado a atender las necesidades de niños y jóvenes deportistas, en realidad, en una gran mayoría está a servicio de los clubes que buscan rentabilizar su inversión en formación. Para ello, no dudan en “recomendar” a los padres la inclusión del “recurso químico” como forma de paliar eventuales cuadros depresivos, de ansiedad o de baja motivación, amenazas frecuentes a la trayectoria deportiva. Es el momento en que el deporte se aleja de la práctica placentera y empieza a fraguar su mala fama relacionada con el dopaje.
http://www.antena3.com/videos-online/especiales/noticias/sociedad/a-fondo/padres-que-presionan-sus-hijos-que-sean-estrellas-deporte-musica-pueden-generar-ellos-nivel-muy-alto-estres_2013032900007.html
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