segunda-feira, 1 de abril de 2013

De como Thiago pode virar um Bojan


Edu: Fiquei com uma impressão ruim das últimas partidas que assisti do Thiago Alcântara. E parece que não só eu... O garoto tem sido criticado. Sábado, contra o Celta, foi mal outra vez, parece ser uma crise de confiança. Mas sempre ficam aquelas dúvidas: o que fazer com um jovem que parece ter potencial de craque? Compensa promovê-lo o quanto antes, mesmo que o time não tenha necessidade? Ou é melhor cautela absoluta, mesmo correndo-se o risco de o cara desanimar e seu futebol minguar? Há muitos casos de garotos-promessas que sucumbem à falta de oportunidades...
Carles: No caso de Thiago, tenho a impressão de que ele está coibido, travado, de uns tempos para cá. Como já comentamos aqui, ele é um híbrido entre o jogo "irresponsável" e a necessidade de absoluta precisão. O ideal para o seu desenvolvimento seria poder aprender sem medo de errar, o medo que chegou de vez depois de alguns erros que originaram gols adversários. Na seleção sub-23 ele se sente mais importante, é evidente. O jogo de Vigo teve um agravante para Thiago, o de voltar à sua cidade de origem, apesar de realmente ter nascido na Itália, em Brindisi, quando o pai (Mazinho) jogava pela Fiorentina. A alta competitividade faz muitas vítimas, sim. A qualidade nem sempre é o passaporte, às vezes vemos jogadores de menor qualidade conseguirem uma cadeira cativa num time de primeiro nível e na seleção, como comentamos no post de ontem.
Edu: É claro que fica complicado para o moleque ter o mínimo controle da situação sendo substituto do Xavi. Aí entra o papel do treinador, da equipe técnica, enfim. Eximir o cara de responsabilidade não é um bom caminho, não é didático, mas deve haver um jeito de esse peso ser amenizado. O fato é que há jovens que sentem menos, de acordo com o tamanho da expectativa. É o caso de Tello, por exemplo, que oscila tecnicamente porque seu jogo é assim, me parece, não porque sinta o peso de entrar no grande time do Barça. Além do que joga em uma posição menos comprometedora.
Carles: A posição de Tello compromete menos porque é menos vertebral na estrutura do time. A do Thiago, em contrapartido, é uma instituição no Barça, é o ícone ‘culé’, por isso é tão difícil que alguém receba esse bastão sem traumas. Mais do que uma substituição é um ritual de outorga. Foi assim com o Xavi. Quase ninguém se lembra, mas ele vivia uma crise de jogo quando Ronaldinho chegou e ajudou a que se transformasse no ídolo que é hoje. A fase inicial de Ronaldinho foi fundamental para que o jogo de Xavi se definisse e se desenvolvesse. Uns meses antes esteve a ponto de deixar o clube.
Edu: É outra prova de que cada um tem a sua forma de adquirir confiança, apesar de as circunstâncias serem importantíssimas. Quem pensaria hoje em dia no Barça sem Xavi? Temos aqui alguns exemplos bem significativos dessa questão de tornar a responsabilidade menos espinhosa e 'quitar presión' dos meninos. Santos e Corinthians promoveram recentemente jovens em situação de nem tanta emergência. O Corinthians utilizou em alguns jogos do Campeonato Paulista o zagueiro Felipe. Não havia nenhuma pressão especial e, talvez por isso, o rapaz se saiu muito bem. O Santos, por outro lado, precisava de um atacante eficaz, porque os antigos titulares não têm sido boa companhia para Neymar. Giva, de 20 anos, entrou no time sem nada a perder, embora mais pressionado que Felipe - e foi ainda melhor, ganhou a posição.
Carles: Felipe é o companheiro de zaga do Marquinhos na conquista da Taça São Paulo 2012? Se é ele, parece que havia interesse do Manchester United.
Edu: Não, o parceiro de Marquinhos era o Antonio Carlos, que foi sondado pelos times de Manchester. Felipe é dois anos mais velho.
Carles: Olha, não sei se o Thiago vai acabar triunfando no Barça ou vai repetir a história de Bojan Krkić, mas é preciso reconhecer que o Barça até dá muitas chances e dosifica o lançamento dos meninos, se comparado com outros clubes grandes. Aliás, Thiago e Bojan além de bons amigos e parceiros de pebolim e boliche, compartem outra questão - a superproteção paterna, o que acaba por fragilizá-los frente ao mundo real. Uma reportagem emitida esta semana pela emissora de TV aberta Antena3 mostra a pressão e o excesso de responsabilidade que os garotos recebem desde cedo dos pais. A grande maioria imagina que os seus filhos serão o novo Messi. A reportagem refere-se à constante necessidade de assistência psicológica quando os garotos ainda estão nas divisões de base.
Edu: E essa história da pressão do Mazinho sobre o filho é palpável e nociva. Nesta semana ele cometeu o erro grave de, numa entrevista, dizer que se o filho não tiver mais minutos no Barça não faltará time para ele jogar. É uma péssima hora para se manifestar com esse padrão de agressividade. Lembra até aqueles pais ‘sem noção’ de tenistas, que, além de sobrecarregar os filhos, criam problemas com o resto da humanidade. Contra o Celta, time em que atuou e bem, Mazinho estava na tribuna...
Carles: Parecia o Touro Sentado nas arquibancadas de Balaídos.
Edu: E com olhar reprovador...
Carles: Eu diria ameaçador. Não acho que ele esteja ajudando o filho colocando-o nessa situação de constante desafio ao clube. Thiago nunca acaba de se sentir parte da casa, o que, como sabemos, seria mais do que meio caminho para se fixar no time do Barça. Costuma ser um problema que pai e representante coincidam na mesma figura, porque dificulta tanto uma negociação objetiva, como a perspectiva mais crítica do atleta da sua relação com a instituição.
Edu: O resultado é que, hoje, Thiago está mais para eterna promessa, como Bojan, do que para futuro titular do Barça. Vai ter que jogar muito para provar o contrário.
Carles: Apesar disso, Thiago sempre demonstrou uma maior personalidade que Bojan, pelo menos nas aparições públicas e entrevistas. Contudo só o futuro dirá se ele será mais uma ‘ex-futura-promessa’.

Um comentário:

Unknown disse...

He aquí el vídeo al que hago referencia en el post. Habría que aclarar que el trabajo de los psicólogos deportivos que, según el vídeo, podría parecer enfocado a atender las necesidades de niños y jóvenes deportistas, en realidad, en una gran mayoría está a servicio de los clubes que buscan rentabilizar su inversión en formación. Para ello, no dudan en “recomendar” a los padres la inclusión del “recurso químico” como forma de paliar eventuales cuadros depresivos, de ansiedad o de baja motivación, amenazas frecuentes a la trayectoria deportiva. Es el momento en que el deporte se aleja de la práctica placentera y empieza a fraguar su mala fama relacionada con el dopaje.
http://www.antena3.com/videos-online/especiales/noticias/sociedad/a-fondo/padres-que-presionan-sus-hijos-que-sean-estrellas-deporte-musica-pueden-generar-ellos-nivel-muy-alto-estres_2013032900007.html