Carles:
Depois das pedras preciosas, do pau-brasil, agora, é a grama! Parece que os
gramados no Brasil vão estar aparadinhos para a Copa, curtos, seguindo a
preferência das equipes europeias. Você tem notícias disso?
Edu:
Os gramados que foram testados até agora, de quatro estádios, estavam bem
curtos mesmo. Se foi para agradar os europeus ninguém aqui percebeu isso, se
bem que os times brasileiros normalmente preferem de fato a grama um pouco
alta. O mais complicado para a Copa das Confederações será a qualidade da
grama, que foi plantada há pouco tempo e já vai entrar no ritmo de jogos
seguidos. No Mineirão, por exemplo, houve problemas no amistoso Brasil e Chile.
Carles:
Os times europeus, nas cada vez mais raras excursões ao Brasil, queixam-se dos
gramados altos. A argumentação é que favorece o jogo mais cadenciado e de
alguma forma lento do futebol brasileiro. Inclusive é uma das questões a ser
consideradas na adaptação dos jogadores brasileiros quando chegam aqui. Nem todos
claro, alguns conseguem fazer embaixadinha com tampa de refrigerante em cima de
uma corda bamba. Por aqui, os grandes times pelo menos tentam jogar com o
gramado bem aparado e um pouco molhado para facilitar a circulação rápida da
bola.
Edu:
Os brasileiros que se queixam dos gramados na Europa, pode estar certo, estão
buscando desculpas. Porque a grande dificuldade dos gramados brasileiros - para
jogadores brasileiros - não é a altura da grama nem o fato de a bola correr
mais ou menos, mas a irregularidade do terreno, os remendos, os buracos, a
falta de nivelamento, o que talvez explique a embaixadinha com tampa de
refrigerante. Claro, não falo dos maiores estádios, mas dos muitos campinhos
que mesmo os craques de primeira grandeza precisam desbravar neste país. Talvez
a Copa comece a mudar um pouco isso.
Carles:
Você acredita que os estádios para a Copa, pelo menos os mais importantes, os
das fases decisivas, devam passar no teste então? Claro que a característica
dos gramados e do próprio terreno tem um pouco a ver com o clima e com a
composição dos solos. Uma dificuldade adicional. Mas nada que um pouco de
investimento em Pesquisa e Desenvolvimento não consiga resolver. É hora de
desenvolver tecnologia própria, não?
Edu:
Não tem por que não se fazer, neste momento, os melhores gramados que existem.
Há bons campos aqui, que já utilizam tecnologia própria, com as devidas
adaptações ao clima. Com tanto dinheiro nas novas arenas, só não serão feitos
gramados perfeitos se os gestores não quiserem, mesmo porque o gasto com o
gramado é ínfimo perto do preço total de uma obra desse porte. E, claro, não
tem sentido fazer um estádio moderno e funcional se o terreno de jogo for um
pasto. O problema maior, como por exemplo acontece no novo Maracanã, é mesmo o
atraso da obra estrutural que, no fim das contas, compromete o último serviço,
ou um dos últimos, que é a montagem do gramado. Nesse ponto, aliás, defendo que
a Fifa seja muito mais rígida do que em outras frugalidades, como a bobagem de
proibir venda de comidas típicas nas cercanias dos estádios... Completa
estupidez dos suíços.
Carles:
Mas que pelo que sei foi revogado, ou nem chegou a vigorar.
Edu:
Ainda não foi revogado oficialmente, mas será. A repercussão foi de tal forma
indignada que os cartolas da Fifa foram obrigados a recuar.
Carles:
Segundo uma entrevista do Fenômeno ao Diário As, de Madrid, o mérito desse “consenso”
quanto aos gramados é dele: "No campos de futebol do Brasil, os gramados
sempre foram muito altos e mais espessos do que na Europa. A primeira coisa que
fiz quando fui nomeado embaixador do Comitê Organizador Local foi pedir que em
todos os estádios a grama fosse como na Europa, curta e fina. É claro que esse
tipo de gramado favorece aos brasileiros!
Esse tipo de gramado favorece a todos os bons jogadores, espanhóis, brasileiros
ou de qualquer país."
Edu:
Imagino que esta seja ainda a visão europeia do Ronaldo, que como todos os
brasileiros que retornam têm aquele choque inicial com os gramados daqui. No
Brasil, dificilmente você vai ouvir um bom jogador criado aqui reclamando de um
gramado de média qualidade, com mínimas condições de jogo. O craque mesmo só
vai protestar quando for um terreno impraticável, já que o ‘cabeça de bagre’
nem isso vai fazer. E, lógico, o Iniesta vai querer um gramado perfeito para
desfilar, mas o Neymar pode se virar em qualquer canto. Talvez seja uma das
poucas 'vantagens' que o futebol brasileiro ainda tenha.
Carles: Mas
depois de provar o filé, é difícil se conformar com menos. Caso do Ronaldo e
que, mais cedo ou mais tarde, será do Neymar também. Segundo o diretor de
comunicações da FIFA, Walter de Gregorio, "existem campos no Brasil com
até sete tipos distintos de grama e que tem que ser trocados por um único tipo”.
Será que isso é uma tentativa de enriquecer alguém com a empreitada ou é real?
Na verdade, Gregorio se referia à dificuldade de atender totalmente à
solicitação de Ronaldo, pelo seu elevado custo.
Edu: É
real. Tão real quanto o fato de alguém fazer bons contratos com os novos
gramados, como é de praxe quando se trata de Fifa. Temos uma tênue esperança
que os novos estádios ajudem a começar a mudar a cultura dos gestores de praças
esportivas. Essa história dos muitos tipos de grama no mesmo campo ainda é uma
clássica ação estúpida dos administradores com mentalidade vira-lata. Fazem
como no asfalto das ruas das grandes cidades: em vez que gastar 100 com uma
grande reforma, gastam 200 com dez pequenas reformas, a 20 cada uma. E saem
dizendo que economizaram.
Carles:
Também não pense que aqui é tudo uma maravilha. Já houve muita enganação,
contratatos com empresas teoricamente especializadas para a troca do gramado
inteiro de um estádio, em regime de emergência, a ponto de iniciar a liga para,
depois, o gramado começar a soltar inteirinho. Por imperícia na colocação, não
cumprimento dos prazos necessários para consolidação das placas ou o uso de um
tipo de grama inadequado ao clima, trazido não sei de onde. E não estamos
falando só de pequenos times, aconteceu com o Real Madrid, com o Barça, com o
Atlético de Madrid…
Edu:
Tem razão, picareta é uma raça globalizada.
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