quinta-feira, 11 de abril de 2013

Jogo de visões, jogo de palavras


Edu: Enquanto houver futebol não haverá rotina, é uma lei imutável do meio esportivo e que me perdoem as outras modalidades. Na noite em que o Barça fez um de seus piores jogos tornou-se semifinalista da Champions. E quando o PSG mostrou que pode ser um grande time (como mais ou menos fez o Málaga na véspera), caiu fora.
Carles: Conclusão: doa a quem doer, o Bayern é franco favorito, portanto, e seguindo essa mesma lógica ilógica, tem tudo para cair fora. O pior do Barça não foi a falta de futebol, mas de confiança. Isso sim é um temor para eles.
Edu: Sim, evidente. E o agravante é que o Bayern não se dá bem nessa história de favoritismo. Mas não gostei do Barça tecnicamente também. Viveu de esforços individuais em uma noite na qual as individualidades não reluziram.
Carles: Os jogadores erraram, foi a pior partida de Dani Alves e de Busquets, mas os maiores erros foram de Tito. Teimoso em optar pela mera velocidade na zaga para cobrir as escapadas do adversário nos contra-ataques que, todo mundo sabe antecipadamente, o Barça vai sofrer em todos os jogos. O Adriano naquela zona e o Xavi fora de forma deixaram o Busquets vendido, inseguro e, o pior, com as linhas absolutamente desassociadas. Faltou elo entre as linhas. Se tivesse colocado um zagueiro convencional como o Bartra ao lado e Piquet e o Adriano ou o Song acompanhando como volante teria dado mais segurança aos homens de frente. Seguramente, Xavi e Iniesta teriam sido suficientes para fazer a ligação.
Edu: Talvez seja duro para vocês, ‘culés’ de carteirinha, reconhecerem que algumas coisas precisam mudar no fim desta temporada, com ou sem título de Champions, já que a Liga está no bolso. Nem sei se Tito Vilanova é o cara ideal para isso porque ainda temos aqui poucas informações dele como estrategista e gerente de recursos humanos. Mas é incompreensível o Barça chegar a um estágio do torneio de clubes mais importante da Europa com esse nível de improvisação. Está certo, contusões são fatalidades. Mas não é difícil prever que um veterano como Puyol se machuque bastante competindo em alto nível e não tenha reposição. Além de outras posições carentes. E há um visível desgaste de alguns titulares até então incontestáveis. Pessoalmente acho que a validade do lado direito da defesa está vencida. Nem Dani nem Piquet estão cumprindo, há tempos. Nunca fui um fã do Piquet, mas ele hoje compromete todo o sistema por causa da lentidão e da deficiência na bola alta. Além de ser bastante vulnerável no mano a mano.
Carles: Olha desde que eu vi o Pelegrino, aquele zagueiro argentino altão, canhoto e lento, que jogou no Valencia e foi seu treinador recentemente, consagrar-se no Velez Sarsfield e ser imediatamente contratado pelo Barça onde fracassou estrepitosamente, essa história de responsabilizar zagueiro pelo sucesso ou crise de jogo não me convence. Acho que o Piquet é o mesmo. Fez uma bela partida pela ‘Roja’ em Paris tem uns dias. O Dani jogou muito no jogo de ida contra o PSG. Insisto, o problema é esquema e a falta de alternativas. Hoje, o time francês, sim, foi humilde a ponto de preparar o jogo, com Ibra pendulando e Pastore e Lavezzi entrando pelos flancos do Busquets, que não sabia o que fazer. Assim, os zaga sempre recebe a ofensiva de dois ou três atacantes em velocidade, bola dominada e de frente. Até o Song teria sido uma alternativa desde o começo, pelo menos para povoar a zona intermediaria do ataque parisiense.
Edu: Vai me desculpar, mas essa visão da falta de alternativa de jogo é muito simplista para explicar o que vem acontecendo com o Barça não é de hoje. Todas as vezes em que o Barça não vai bem é porque não encontrou alternativa e não porque o adversário soube explorar suas fraquezas? Não é um sistema que vai salvar o cara que falha em um jogo e no outro também. Tem sido assim com Piquet, com Dani e também com o velho Puyol e Busquets. Não existe a possibilidade de o Barça ser um time defensivo, concordo, não está no DNA. Mas é preciso reconhecer que nem sempre a equipe terá o controle do jogo e, sendo assim, precisa saber se virar defensivamente, o que às vezes, dependendo do adversário, fica nas mãos do cara que está ali, a pessoa física, não o sistema. As pessoas físicas têm falhado muito, repetidamente.
Carles: Estou justamente advogando pelo contrário, em determinadas situações ser defensivo. Mais exatamente, estar preparado para defender mais atrás e não sempre lá na frente, que foi o grande trunfo do Barça mais brilhante. Porque o adversário também joga e, pior, também pensa. É isso que tem complicado a vida do Barça, que o adversário pense e prepare o jogo. E está na hora de o Barça parar para pensar que mais cedo ou mais tarde precisa aprender a realizar contra- ataques. E para isso não pode ser combativo só lá na frente.
Edu: Ainda assim, pelo histórico recente do Barça dificilmente não haverá uma mudança importante de nomes, sob pena de acabar de vez o ciclo vencedor. De todo jeito, o que marcou no jogo de ontem foi a magnífica evolução do PSG no primeiro tempo, em relação à confusão de ideias que vinha apresentando desde que foi formado esse time biônico. Foi mais consciente, usou na medida seus jogadores experientes e teve um furacão do meio-campo para frente, Lucas, desta vez sim o nosso conhecido Lucas, que chama o jogo para si.
Carles: Admiro sua capacidade para desfrutar das individualidades. Eu sou apreciador declarado do jogo socialista, com todo mundo participando e cobrindo deficiências alheias. O pior é que o Barça, de ser o time mais proletário pelo jogo coletivo, está se estratificando. Uma camada social alta, cada vez mais alta, e o resto. E por esplêndido que seja esse monarca, isso não é bom para o futuro da coletividade.
Edu: Minha base é a cultura do futebol brasileiro, tenho esse defeito. E se “sua majestade Leo” não tivesse entrado, possivelmente teríamos mais do que espanhóis e alemães no sorteio da sexta-feira.
Carles: Insisto, o PSG foi superior hoje por ter sabido trabalhar o jogo coletivo. Nem mesmo o Ibra teve o protagonismo que ele tanto gosta.
Edu: São jeitos de ver futebol. O PSG ainda é um time visivelmente artificial e sem entrosamento. Tanto que a dupla de volantes era completamente diferente da do jogo anterior e mostrou pouca sintonia com o ataque da mesma forma. Mas algo funcionou. O que me parece que resolveu evoluir foi o poder de aglutinação individual, cada um fazendo sua pequena parte com precisão, exatamente o contrário da sua visão. Aí, como o time não tem padrão, prevalece o feeling de jogadores bastante rodados e alguns jovens talentosos como Lucas e Verrati.
Carles: Sem dúvida as melhores contratações do PSG, se o projeto tiver futuro, os dois serão a base, junto com Thiago Silva. Entendo que um bom esquema permite que algumas individualidades possam se destacar. Onde você viu individualidades, eu vi um esquema, e especialmente planejado para este jogo, funcionando às mil maravilhas. Durante o jogo, você mesmo comentou, o PSG está jogando direitinho.
Edu: Na minha modestíssima visão, jogar direitinho não significa necessariamente esquema perfeito. Mas, claro, quando os caras fazem as coisas bem individualmente, algo funciona no conjunto.
Carles: Quero dizer que inconscientemente você destacou o conjunto. O que eu defendo é que à vezes é preciso ter a humildade para aprontar uma armadilha para o adversário e não ignorá-lo sempre.

Um comentário:

denise disse...

o messi - capengando - entrou, o psg se retraiu na hora, se perdeu, não conseguiu se refazer da aparição... e perdeu.