Edu:
Enquanto houver futebol não haverá rotina, é uma lei imutável do meio esportivo
e que me perdoem as outras modalidades. Na noite em que o Barça fez um de seus
piores jogos tornou-se semifinalista da Champions. E quando o PSG mostrou que
pode ser um grande time (como mais ou menos fez o Málaga na véspera), caiu
fora.
Carles:
Conclusão: doa a quem doer, o Bayern é franco favorito, portanto, e seguindo essa
mesma lógica ilógica, tem tudo para cair fora. O pior do Barça não foi a falta
de futebol, mas de confiança. Isso sim é um temor para eles.
Edu:
Sim, evidente. E o agravante é que o Bayern não se dá bem nessa história de
favoritismo. Mas não gostei do Barça tecnicamente também. Viveu de esforços
individuais em uma noite na qual as individualidades não reluziram.
Carles:
Os jogadores erraram, foi a pior partida de Dani Alves e de Busquets, mas os
maiores erros foram de Tito. Teimoso em optar pela mera velocidade na zaga para
cobrir as escapadas do adversário nos contra-ataques que, todo mundo sabe
antecipadamente, o Barça vai sofrer em todos os jogos. O Adriano naquela zona e
o Xavi fora de forma deixaram o Busquets vendido, inseguro e, o pior, com as
linhas absolutamente desassociadas. Faltou elo entre as linhas. Se tivesse
colocado um zagueiro convencional como o Bartra ao lado e Piquet e o Adriano ou
o Song acompanhando como volante teria dado mais segurança aos homens de
frente. Seguramente, Xavi e Iniesta teriam sido suficientes para fazer a
ligação.
Edu:
Talvez seja duro para vocês, ‘culés’ de carteirinha, reconhecerem que algumas
coisas precisam mudar no fim desta temporada, com ou sem título de Champions,
já que a Liga está no bolso. Nem sei se Tito Vilanova é o cara ideal para isso
porque ainda temos aqui poucas informações dele como estrategista e gerente de
recursos humanos. Mas é incompreensível o Barça chegar a um estágio do torneio
de clubes mais importante da Europa com esse nível de improvisação. Está certo,
contusões são fatalidades. Mas não é difícil prever que um veterano como Puyol
se machuque bastante competindo em alto nível e não tenha reposição. Além de
outras posições carentes. E há um visível desgaste de alguns titulares até
então incontestáveis. Pessoalmente acho que a validade do lado direito da
defesa está vencida. Nem Dani nem Piquet estão cumprindo, há tempos. Nunca fui
um fã do Piquet, mas ele hoje compromete todo o sistema por causa da lentidão e
da deficiência na bola alta. Além de ser bastante vulnerável no mano a mano.
Carles:
Olha desde que eu vi o Pelegrino, aquele zagueiro argentino altão, canhoto e
lento, que jogou no Valencia e foi seu treinador recentemente, consagrar-se no
Velez Sarsfield e ser imediatamente contratado pelo Barça onde fracassou estrepitosamente, essa
história de responsabilizar zagueiro pelo sucesso ou crise de jogo não me convence. Acho
que o Piquet é o mesmo. Fez uma bela partida pela ‘Roja’ em Paris tem uns dias.
O Dani jogou muito no jogo de ida contra o PSG. Insisto, o problema é esquema e
a falta de alternativas. Hoje, o time francês, sim, foi humilde a ponto de
preparar o jogo, com Ibra pendulando e Pastore e Lavezzi entrando pelos flancos
do Busquets, que não sabia o que fazer. Assim, os zaga sempre recebe a ofensiva
de dois ou três atacantes em velocidade, bola dominada e de frente. Até o Song
teria sido uma alternativa desde o começo, pelo menos para povoar a zona
intermediaria do ataque parisiense.
Edu:
Vai me desculpar, mas essa visão da falta de alternativa de jogo é muito
simplista para explicar o que vem acontecendo com o Barça não é de hoje. Todas
as vezes em que o Barça não vai bem é porque não encontrou alternativa e não
porque o adversário soube explorar suas fraquezas? Não é um sistema que vai
salvar o cara que falha em um jogo e no outro também. Tem sido assim com
Piquet, com Dani e também com o velho Puyol e Busquets. Não existe a
possibilidade de o Barça ser um time defensivo, concordo, não está no DNA. Mas
é preciso reconhecer que nem sempre a equipe terá o controle do jogo e, sendo
assim, precisa saber se virar defensivamente, o que às vezes, dependendo do
adversário, fica nas mãos do cara que está ali, a pessoa física, não o sistema.
As pessoas físicas têm falhado muito, repetidamente.
Carles:
Estou justamente advogando pelo contrário, em determinadas situações ser defensivo.
Mais exatamente, estar preparado para defender mais atrás e não sempre lá na
frente, que foi o grande trunfo do Barça mais brilhante. Porque o adversário
também joga e, pior, também pensa. É isso que tem complicado a vida do Barça,
que o adversário pense e prepare o jogo. E está na hora de o Barça parar para
pensar que mais cedo ou mais tarde precisa aprender a realizar contra- ataques.
E para isso não pode ser combativo só lá na frente.
Edu:
Ainda assim, pelo histórico recente do Barça dificilmente não haverá uma
mudança importante de nomes, sob pena de acabar de vez o ciclo vencedor. De
todo jeito, o que marcou no jogo de ontem foi a magnífica evolução do PSG no
primeiro tempo, em relação à confusão de ideias que vinha apresentando desde
que foi formado esse time biônico. Foi mais consciente, usou na medida seus
jogadores experientes e teve um furacão do meio-campo para frente, Lucas, desta
vez sim o nosso conhecido Lucas, que chama o jogo para si.
Carles:
Admiro sua capacidade para desfrutar das individualidades. Eu sou apreciador declarado
do jogo socialista, com todo mundo participando e cobrindo deficiências
alheias. O pior é que o Barça, de ser o time mais proletário pelo jogo coletivo,
está se estratificando. Uma camada social alta, cada vez mais alta, e o resto.
E por esplêndido que seja esse monarca, isso não é bom para o futuro da
coletividade.
Edu:
Minha base é a cultura do futebol brasileiro, tenho esse defeito. E se “sua
majestade Leo” não tivesse entrado, possivelmente teríamos mais do que
espanhóis e alemães no sorteio da sexta-feira.
Carles: Insisto,
o PSG foi superior hoje por ter sabido trabalhar o jogo coletivo. Nem mesmo o Ibra
teve o protagonismo que ele tanto gosta.
Edu:
São jeitos de ver futebol. O PSG ainda é um time visivelmente artificial e sem
entrosamento. Tanto que a dupla de volantes era completamente diferente da do
jogo anterior e mostrou pouca sintonia com o ataque da mesma forma. Mas algo
funcionou. O que me parece que resolveu evoluir foi o poder de aglutinação individual,
cada um fazendo sua pequena parte com precisão, exatamente o contrário da sua
visão. Aí, como o time não tem padrão, prevalece o feeling de jogadores
bastante rodados e alguns jovens talentosos como Lucas e Verrati.
Carles:
Sem dúvida as melhores contratações do PSG, se o projeto tiver futuro, os dois
serão a base, junto com Thiago Silva. Entendo que um bom esquema permite que
algumas individualidades possam se destacar. Onde você viu individualidades, eu
vi um esquema, e especialmente planejado para este jogo, funcionando às mil
maravilhas. Durante o jogo, você mesmo comentou, o PSG está jogando direitinho.
Edu:
Na minha modestíssima visão, jogar direitinho não significa necessariamente
esquema perfeito. Mas, claro, quando os caras fazem as coisas bem
individualmente, algo funciona no conjunto.
Carles: Quero dizer que inconscientemente você destacou
o conjunto. O que eu defendo é que à vezes é preciso ter a humildade para aprontar
uma armadilha para o adversário e não ignorá-lo sempre.
Um comentário:
o messi - capengando - entrou, o psg se retraiu na hora, se perdeu, não conseguiu se refazer da aparição... e perdeu.
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