Edu:
Você soube do veto de Uli Hoeness a Neymar no Bayern de Munique?
Carles:
Soube que Guardiola tinha pedido e que ele tinha vetado a contratação, mas não que
fosse algo pessoal, relacionado com o garoto.
Edu:
Pior, com os garotos brasileiros em geral, essa foi a justificativa.
Carles:
Preconceito? Ou medo de fazer um negócio cheio de meandros, no momento em que
está sendo investigado pelo fisco alemão? Bom, se esse fosse o motivo, Rossel
também teria vetado.
Edu:
Preconceito, prejulgamento, prepotência. Vários 'pres'. O caso do Breno,
zagueiro ex-São Paulo, que teve um surto e pôs fogo na casa (ainda está detido
na Alemanha) teria sido a razão, ou a desculpa. Na cabeça arejada de Hoeness,
os jovens brasileiros são um negócio de risco. Mesmo o Neymar.
Carles:
Ninguém é ingênuo de achar que garotos de 20 anos, cheios da grana, ídolos de
massas, despreparados e recém-chegados a culturas diferentes, não vão dar um certo trabalho. É
natural que esteja previsto um acompanhamento de perto durante a adaptação. Não
é vigilância, orientação mesmo. Mas se o proprio Pep, quem provavelmente teria a
maior responsabilidade nisso, achou que valia a pena, quem é Hoeness para
vetar?
Edu:
Falávamos outro dia da visível modernização do futebol alemão. Pois Hoeness é
um brontossauro da velha Alemanha, está claro. E se foi uma recomendação de
Guardiola, é um começo de trabalho que não poderia ser pior no Bayern. Pep
pediu Neymar e recebeu Götze, com essa justificativa esfarrapada e
discriminatória.
Carles: Estabeleçamos
critérios, antes de seguirmos. Em que medida um jogador profissional de alto
rendimento pode ser considerado uma mercadoria?
Edu:
Para determinados cardeais, não tem medida, o céu é o limite. E esses cardeais
não governam só na Alemanha. Estão aqui, aí, em todos os cantos. Mas ainda
considero que muita gente importante pense de outra forma e garanta o que resta
de humanização nesse esporte. Guardiola parece ser um deles. Lá mesmo na
Alemanha, Klopp é outro.
Carles:
É, mas Pep saiu de fininho, toccata e fuga de Rossel, para dar de frente com
Hoeness. Quanto tempo vai aguentar? Para quando o próximo ano sabático?
Edu:
Estamos vendo que a previsão se confirma: será um relacionamento pesado, ácido.
Uma química nada fácil entre chefes germânicos e um líder latino. Mas você pode
falar melhor que eu sobre as habilidades diplomáticas de Pep Guardiola.
Carles: Não
é segredo que gosto do estilo dele, não costuma jogar a porcaria no ventilador,
prefere proteger seus comandados. Foi assim no último ano de Barça, quando já
se notava o desgaste, mas que em momento nenhum ele deixou transparecer.
Requisito básico para quem tem que liderar um grupo de jovens. Vimos que, por
exemplo, o estilo Mou é todo o contrário, ciumeira geral, rivaliza com os
jogadores, cutuca em público e em privado, demonstrando, enfim, total falta de
maturidade.
Edu:
Não sei se essa reação do Hoeness é uma atitude para marcar território e deixar
claro a Guardiola quem manda no pedaço ou se é uma aberração pessoal, o que me
parece mais plausível vindo de quem vem, um cara que precisa prestar contas com
a Justiça e está moralmente pressionado. Aí sobrou para o Neymar e para os
brasileiros em geral. Mas, seja o que for, Guardiola terá uma experiência
bastante diferente da que viveu em seu tempo de Barça, onde tinha razoável
autonomia. Será um árduo aprendizado. Acho difícil ele conquistar a confiança
dos jogadores logo de cara, apesar do carisma e do histórico que tem.
Carles: Só
que lá no Barça, desde a posse de Sandro Rossel, teve que aprender a lidar com um
estilo dissimulado. Às vezes é preferível enfrentar um brontossauro, uma ameaça
sempre visível, do que uma hiena, não?
Edu:
Mesmo assim, Carlão. Ele circulava num ambiente totalmente conhecido, cresceu
ali, aprendeu futebol ali, tinha um certo controle sobre as pessoas, ainda que
uma ou outra hiena. Travar uma relação mais próxima com a cultura alemã não é
fácil, ainda mais em um clube com tamanha tradição, multicampeão, time da moda.
Veremos agora o tamanho real do gabarito profissional de Pep Guardiola.
Carles:
Um total incógnita, essa relação.
Edu:
E como convém a um latino de raízes, o Brasil deu o troco. Exigiu a
apresentação imediata na Seleção de Dante e Luís Gustavo, que o Bayern só
queria liberar depois da decisão da Copa da Alemanha, no sábado. Como a Fifa
respalda, os alemães não têm outra saída a não ser concordar.
Carles:
Espírito vingativo, represália, também não acho a melhor saída, inclusive
porque acaba por condicionar o relacionamento dos jogadores com o empregador,
que é o Bayern. Enquanto os cartolas insistirem no método do braço de ferro como política, tanto trabalhadores como simpatizantes seguirão sofrendo as consequências.
Edu:
Nem sei se foi essa a ideia, de vingança. Mas aconteceu no mesmo dia e,
portanto, não pode ser coincidência. De todo jeito, a CBF tinha esse direito,
ou cortava os dois jogadores da Copa das Confederações.
Carles:
Tá bom, não é vingança, vendeta, então. Coincidência? Pouco provável. Deixa ver
se eu entendi. A CBF lê ou escuta ou confirma que o presidente do Bayern declarou
que jogador brasileiro é sinônimo de confusão, e então decidem: vamos chamar os
jogadores brasileiros do Bayern já! Faça-me o favor. "Son como críos".
Edu:
Só confirma que há hienas e brontossauros por todos os lados.
4 comentários:
Se o advogado do diabo pudesse opinar ele diria o seguinte:
Que tal ver o outro lado? Como tem sido o comportamento dos jovens do Brasil, nos últimos tempos, com mais de 30 anos sem educação básica qualificada, onde a o sonho de carreira de toda uma classe é ser modelo, cantar pagode, funk ou se destacar no esporte ? Buscam somente atividades sem formação humana, são só embalagens. Muitos deles saem do submundo, escondendo-se do crime e da violência doméstica, diretamente para o sucesso, tendo como única formação o pastor que ensina "louvar Jesus".
Eu não discordo completamente da cautela desse senhor. Há mentes mais otimistas e outras mais conservadoras.
É fato notório que diversos jovens brasileiros, alçados ao estrelato, transformaram-se em problemas quando os bolsos se encheram de dinheiro.
Para piorar, faz muito tempo que um deles não brilha de verdade no cenário mundial. O penúltimo foi Ronaldo, realmente diferenciado. O último foi o Gaúcho, que não era tudo isso. Só que custaram muito barato.
Aqui o diabo nem precisa de advogado, meu caro Salles, é tribuna livre. Onde é que eu assino? Só discordo das suas contas. Pelas minhas, são bem mais do que 30 anos. É muito tempo para recuperar, não acha? Um pouco de paciência mas ‘sin perder la ternura’. Enquanto isso, que tal uma educação pública valorizada, melhorada pouco a pouco, mais humanizada como você disse, incluindo matérias como filosofia, sociologia, artes, etc., já no ensino básico? Sem a necessidade de imitar ninguém, desmistificando verdades absolutas como a de educar visando o êxito financeiro.
Se vamos discutir os problemas da educação no Brasil, certamente o sr. Hoeness não estaria na roda. E não foi essa ideia que pautou o veto a Neymar, do contrário o advogado do diabo estaria coberto de razão.
Bão, eu não conheço esse senhor e só mencionei a Educação do Brasil porque ela é a causa da burrice e comportamento ruim desses moleques endinheirados sem educação básica, tanto de berço, como de acesso público. Nem são os casos de Neymar e Lucas, que têm berço. É que há muitos que denigrem o nosso povo. Basta checar.
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