terça-feira, 21 de maio de 2013

Dos Países Baixos, com ginga


Carles: Se eu entendi bem, em uma das nossas recentes conversas sobre renovação, você tentou me convencer do que eu ouvi minha mãe tantas vezes dizer: "no hay que dormirse en los laureles". Pode ser o que esteja acontecendo tanto com a atual seleção campeã como com a pentacampeã do mundo. O pior é que a ameaça para nós e para vocês é que , desta vez,   ao parecer não vem só dos tradicionais aspirantes mas também desde outros países que estiveram investindo na preparação de seus jovens valores e podem ser também sérios desafiantes. Quem você destacaria para o próximo Mundial?
Edu: Não sei se chegarão como 'sérios desafiantes', como são as grifes de sempre, mas gostaria muito de ver por aqui Bélgica e Colômbia. Pelo andar das Eliminatórias, acho que ambos virão. A Bélgica, principalmente, tem um perfil desse tipo, de time com ar renovado, inclusive no estilo. E com meia dúzia de grandes jogadores.
Carles: Da última geração de ouro colombiana se esperava muito e no fim, os resultados foram um pouco decepcionantes, especialmente talvez pela falta da capacidade de competir. Já os "diabos vermelhos", lá pelos anos 80 deixaram seu nome gravado com um vice-campeonato europeu e uma participação nas quartas de final de uma Copa. Pelo visto, desta vez, além da tradição de grandes goleiros como Pfaff ou Preud'homme, a seleção belga tem muita gente com talento e habilidade nas outras demarcações.
Edu: Esse futebol belga que sempre foi um tanto indefinido tem uma história muito à sombra dos holandeses, que tradicionalmente se gabam de ser a porção talentosa dos Países Baixos. Mas os belgas também tiveram gente boa que, por causa da inépcia da seleção, não causou tanto furor. Lembro de Ronaldo Fenômeno dizendo mais de uma vez que o maior parceiro que ele já teve foi Luc Nillis, no PSV Eindhoven, aquele atacante magrelo e alto, especialmente habilidoso. E todo mundo deve lembrar do interminável Jan Ceulemans, que jogou 15 anos e quase cem partidas pela seleção. Mas agora o país já não vive de um destaque aqui, outro ali. Se os belgas tivessem hoje só Eden Hazard, já seriam uma atração, mas há muitos outros, escaldados na dureza da Premier League.
Carles: Que surjam grandes zagueiros do futebol belga, como a Vermaelen do Arsenal e Kompany do City, não surpreende tanto como a promessa de que Romelu Lukaku seja o novo Drogba. Será que vai ficar nisso, em promessa? A decisão do clube dono do seu passe, o Chelsea, de  emprestá-lo ao West Bromwich se deve ao overbooking de jogadores nessa zona ou simplesmente uma estratégia para calejar o moleque precoce?
Edu: A ideia deve ser calejar, mas nunca se sabe o que vai acontecer com o novo técnico que vai aparecer por lá!!! Lukaku, só 20 anos, é parte, aliás, de um grupo generoso de belgas com origem africana, o que talvez explique a transformação de estilo na seleção nos últimos dois anos. Aliás, neste fim de semana, ele estragou o jogo de despedida de Ferguson como treinador, marcando um hat trick no espetacular empate do seu time, o West Bromwich com o Manchester. Assim mesmo, o grande nome pode ser o Hazard (filho de pai e mãe jogadores de futebol, diga-se).
Carles: A linhagem dos craques Hazard inclui os irmãos mais novos de Eden, Thorgan e Kylian, e o pai de Lukaku também foi jogador.
Edu: Além do próprio Lukaku, Kompany e o excelente meia Moussa Dembelé, têm origem africana. Kompany e Lukaku são de ascendência congolesa, enquanto Dembelé tem pai malinês. E há ainda Axel Witsel, de família oriunda da Martinica, um dos jogadores mais caros da história da Bélgica depois de sua transferência para o Zenit. A Bélgica é hoje um time com ginga, essa é a verdade.
Carles: E não esqueçamos da segurança lá trás. Um dos heróis da final da Copa del Rey entre Atlético e Real Madrid foi o gigante com cara de moleque Thibaut Courtois, a grande promessa que parece fazer jus à tradição de goleiros belgas. Um enorme potencial e que pouco a pouco, parece, vai corrigindo muitos dos defeitos, próprios da juventude.
Edu: Pois é, era reserva na seleção até outro dia, mas esta temporada com o Atlético pode ter mudado essa história. Você percebeu que em três ou quatro frases aqui montamos um time que tem como estrutura Courtois, Vermaelen, Kompany, Dembelé, Hazard, Witsel e Lukaku. Quantas seleções podem ser dar a esse luxo?
Carles: O melhor é que é um time para durar umas quantas competições européias e mundiais.
Edu: E ainda tem Mirallas e Felaini, ambos do Everton, e Vertogen, do Tottenhan, todos esses numa faixa de idade que garante mais duas ou três copas. Os mais velhos são os zagueiros (Kompany e Varmaelen têm 27 anos). Os Diables Rouges vão dar trabalho, definitivamente... Assim como a Colômbia, que mencionamos acima, mas que deixaremos para outro post porque também merece atenção especial. A Colômbia de hoje não é só Radamel Falcao.
Carles: Não mesmo, uma outra amostra significativa é a boa temporada de Pabón no Betis. Mas tem craque colombiano em quase todas as principais ligas do planeta. Merece um post, sim.

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