Carles:
Se eu entendi bem, em uma das nossas recentes conversas sobre renovação, você
tentou me convencer do que eu ouvi minha mãe tantas vezes dizer: "no hay
que dormirse en los laureles". Pode ser o que esteja acontecendo tanto com
a atual seleção campeã como com a pentacampeã do mundo. O pior é que a ameaça para
nós e para vocês é que , desta vez, ao parecer não vem só dos tradicionais
aspirantes mas também desde outros países que estiveram investindo na
preparação de seus jovens valores e podem ser também sérios desafiantes. Quem
você destacaria para o próximo Mundial?
Edu:
Não sei se chegarão como 'sérios desafiantes', como são as grifes de sempre,
mas gostaria muito de ver por aqui Bélgica e Colômbia. Pelo andar das
Eliminatórias, acho que ambos virão. A Bélgica, principalmente, tem um perfil
desse tipo, de time com ar renovado, inclusive no estilo. E com meia dúzia de
grandes jogadores.
Carles:
Da última geração de ouro colombiana se esperava muito e no fim, os resultados
foram um pouco decepcionantes, especialmente talvez pela falta da capacidade de
competir. Já os "diabos vermelhos", lá pelos anos 80 deixaram seu
nome gravado com um vice-campeonato europeu e uma participação nas quartas de
final de uma Copa. Pelo visto, desta vez, além da tradição de grandes goleiros
como Pfaff ou Preud'homme, a seleção belga tem muita gente com talento e
habilidade nas outras demarcações.
Edu:
Esse futebol belga que sempre foi um tanto indefinido tem uma história muito à
sombra dos holandeses, que tradicionalmente se gabam de ser a porção talentosa
dos Países Baixos. Mas os belgas também tiveram gente boa que, por causa da
inépcia da seleção, não causou tanto furor. Lembro de Ronaldo Fenômeno dizendo
mais de uma vez que o maior parceiro que ele já teve foi Luc Nillis, no PSV
Eindhoven, aquele atacante magrelo e alto, especialmente habilidoso. E todo
mundo deve lembrar do interminável Jan Ceulemans, que jogou 15 anos e quase cem
partidas pela seleção. Mas agora o país já não vive de um destaque aqui, outro
ali. Se os belgas tivessem hoje só Eden Hazard, já seriam uma atração, mas há
muitos outros, escaldados na dureza da Premier League.
Carles:
Que surjam grandes zagueiros do futebol belga, como a Vermaelen do Arsenal e
Kompany do City, não surpreende tanto como a promessa de que Romelu Lukaku seja
o novo Drogba. Será que vai ficar nisso, em promessa? A decisão do clube dono
do seu passe, o Chelsea, de emprestá-lo
ao West Bromwich se deve ao overbooking de jogadores nessa zona ou simplesmente
uma estratégia para calejar o moleque precoce?
Edu:
A ideia deve ser calejar, mas nunca se sabe o que vai acontecer com o novo
técnico que vai aparecer por lá!!! Lukaku, só 20 anos, é parte, aliás, de um
grupo generoso de belgas com origem africana, o que talvez explique a
transformação de estilo na seleção nos últimos dois anos. Aliás, neste fim de semana, ele estragou o jogo de despedida de Ferguson como treinador, marcando um hat trick no espetacular empate do seu time, o West Bromwich com o Manchester. Assim mesmo, o grande nome pode
ser o Hazard (filho de pai e mãe jogadores de futebol, diga-se).
Carles: A
linhagem dos craques Hazard inclui os irmãos mais novos de Eden, Thorgan e Kylian, e o pai de Lukaku também foi
jogador.
Edu: Além
do próprio Lukaku, Kompany e o excelente meia Moussa Dembelé, têm origem
africana. Kompany e Lukaku são de ascendência congolesa, enquanto Dembelé tem
pai malinês. E há ainda Axel Witsel, de família oriunda da Martinica, um dos
jogadores mais caros da história da Bélgica depois de sua transferência para o
Zenit. A Bélgica é hoje um time com ginga, essa é a verdade.
Carles: E
não esqueçamos da segurança lá trás. Um dos heróis da final da Copa del Rey
entre Atlético e Real Madrid foi o gigante com cara de moleque Thibaut Courtois,
a grande promessa que parece fazer jus à tradição de goleiros belgas. Um enorme
potencial e que pouco a pouco, parece, vai corrigindo muitos dos defeitos, próprios
da juventude.
Edu:
Pois é, era reserva na seleção até outro dia, mas esta temporada com o Atlético
pode ter mudado essa história. Você percebeu que em três ou quatro frases aqui
montamos um time que tem como estrutura Courtois, Vermaelen, Kompany, Dembelé,
Hazard, Witsel e Lukaku. Quantas seleções podem ser dar a esse luxo?
Carles:
O melhor é que é um time para durar umas quantas competições européias e
mundiais.
Edu: E
ainda tem Mirallas e Felaini, ambos do Everton, e Vertogen, do Tottenhan, todos
esses numa faixa de idade que garante mais duas ou três copas. Os mais velhos
são os zagueiros (Kompany e Varmaelen têm 27 anos). Os Diables Rouges vão dar trabalho, definitivamente... Assim como a
Colômbia, que mencionamos acima, mas que deixaremos para outro post porque
também merece atenção especial. A Colômbia de hoje não é só Radamel Falcao.
Carles:
Não mesmo, uma outra amostra significativa é a boa temporada de Pabón no Betis.
Mas tem craque colombiano em quase todas as principais ligas do planeta. Merece
um post, sim.
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