domingo, 5 de maio de 2013

Libertadores com “jeitim” mineiro


Carles: Como já disse, pouco ou nada vemos da Libertadores por aqui. Um amigo de um grande veículo da mídia contou-me inclusive das dificuldades de negociar os direitos de transmissão dos torneios sul-americanos. Portanto, conte como foi a rodada, que, segundo você mesmo falou, representa o começo real da Libertadores.
Edu: Começo real e péssimo para Corinthians e São Paulo. Não tinha visto nos últimos dois anos uma partida tão ruim do Corinthians. Covarde, passivo, sem nada daquela ótima pegada que se tornou característica. Perdeu para um Boca Juniors todo capenga, um time tosco, que não lembra minimamente o poderoso que foi. E o São Paulo está praticamente fora: perder para o Atlético, melhor time do torneio, dentro do Morumbi, é praticamente uma sentença... Ninguém acredita em recuperação no jogo de volta.
Carles: É a sensação que eu tenho e não acho que seja o único. O pior resultado é o do São Paulo. A pior notícia, no caso do Corinthians, é o jogo (ou falta) mostrado, e não o resultado. É assim? E essa percepção ruim, suponho, deve-se também às altas expectativas que existiam com relação ao Corinthians que, neste ano, perdeu o fator surpresa.
Edu: A forma como o time abordou o jogo de Buenos Aires foi preocupante demais, muito mais do que o resultado. Não acho que será fácil reverter na volta, mesmo no Pacaembu, porque aí o Boca vai adotar aquele padrão clássico argentino de explorar a ansiedade do adversário. E isso, como depende mais de atitude do que de técnica, o Boca sabe fazer bem, mesmo este Boca. O Corinthians tem um agravante: é um time que depende muito do envolvimento de todos. Os jogadores trabalham com o ponteirinho da intensidade lá em cima. Se dois ou três estão em uma noite ruim, o risco de desabar todo mundo é bem maior. Foi o que aconteceu.
Carles: Algo similar com o que estamos vendo acontecer por aqui com o Barça. Pelo pouco que tenho visto, o Boca deste ano é inclusive inferior ao do ano passado. Só que tem o velho Bianchi de volta.
Edu: É um time fraco, bem fraco. Teria vencido o Corinthians com facilidade, e não só por 1 a 0, fossem outros tempos. Por isso que ainda há alguma esperança. Para o São Paulo, porém, a coisa ficou feia depois da expulsão do Lúcio quando o time ganhava por 1 a 0 no Morumbi. E em Minas o Atlético ainda não perdeu desde que Ronaldinho chegou.
Carles: Por causa do Ronaldinho?
Edu: Foi um revulsivo, né Carlão. Chegou fazendo das suas pirotecnias, golaços em times pequenos de Minas, ganhou moral, fez um bom Brasileiro e voltou para a Seleção. É o líder do time. Para o Atlético, que há muito tempo não ganha títulos importantes, ele se tornou o símbolo da mudança, mais ou menos como fez no auge de sua forma ao chegar ao Barça. Se bem que o time todo é certinho e tem jogadores determinantes como Bernard e Tardelli, além do Rever, que comanda o bom sistema defensivo.
Carles: E o projeto do São Paulo? Resume-se à vibração da cor do novo uniforme ou tem algo mais preparado para o futuro? Ceni, Lúcio, Luis Fabiano e outros veteranos não são exatamente um projeto de futuro. E Ganso também não parece disposto a liderar nada, de momento.
Edu: Complicou e muito. O time terá que se contentar em brigar pelo título do Campeonato Paulista, mas passará por uma inevitável transformação em seguida. A começar pelo treinador, Nei Franco, que como já conversamos é bastante ingênuo para enfrentar a pressão de um clube com o tamanho do São Paulo. E se depender do Ganso para liderar alguma coisa, pode esquecer.
Carles: E os demais, Grêmio, Fluminense, Palmeiras… sobrevivem.
Edu: Vejo o Palmeiras como o grande vitorioso da rodada. O Grêmio ganhou na bacia das almas do Santa Fé, 2 a 1, e terá que fazer a partida de volta na Colômbia em um ambiente hostil. O Fluminense perdeu para o Emelec no Equador, mas não deve ter problemas no segundo jogo, em casa. E o Palmeiras foi muito bem: empatou em Tijuana em um campo sintético e deve passar tranquilamente no jogo do Pacaembu. A verdade é que, exceto o Atlético, não há um grande time na Libertadores deste ano. Por isso não seria surpresa uma final de brasileiros se, por exemplo, Corinthians e Fluminense estivessem no mesmo nível do ano passado.
Carles: A exemplo da Europa, em que os torneios internacionais servem como observatório e impulsor do mercado de contratações, a Libertadores tem mostrado jovens talentos? Já que o Brasil é, digamos, o grande comprador da região, atualmente, os clubes conseguem descobrir futuros craques por meio do campeonato?
Edu: De alguma forma sim, sempre surgem algumas novidades. Os times brasileiros têm aproveitado melhor mercados como o do Chile e mesmo da Colômbia. Mas esteja certo de que, se o destaque for realmente de alto nível, os europeus dão o bote antes, bem antes. Talvez os times brasileiros contem com o fato de a Libertadores não ter grande visibilidade aí, como você diz. Mesmo assim sempre há muitos olheiros dos principais times europeus rondando nossos torneios.
Carles: Sempre. Todos os grandes clubes europeus tem um staff de especialistas, observadores com jurisdição determinada. Nada que os clubes brasileiros não possam emular. Poderia ser uma muito boa alternativa para um momento de crise interna de talentos. Sempre houve jogadores sul-americanos de outras nacionalidades sobretudo em determinados clubes brasileiros. Assim mesmo, tenho a sensação que não é algo institucionalizado, quando seria uma opção legítima, repito. Não existe um pouco de preconceito, como se fosse sempre a ultimíssima alternativa, quando todas as outras já se esgotaram? Inclusive, repatriar jogadores fracassados na Europa e já meio desanimados aparece sempre como uma opção mais cômoda para os clubes.
Edu: Neste momento específico é até bastante significativa a presença de sul-americanos nos principais times daqui. Praticamente todos têm um ou dois hermanos. Os gaúchos têm vários, o Santos tem argentinos, o Corinthians tem um peruano, mas tinha dois argentinos e dois peruanos até poucos meses atrás. O São Paulo tem um argentino que jogava no Chile, os times do Rio e de Minas também saíram atrás dos gringos. Acho que esse preconceito acabou faz tempo, na verdade. O que é questionável é trazer de volta da Europa qualquer jogador em fim de carreira. Claro, quando se trata de um Ronaldo, a coisa extrapola o futebol. Mas tem gente voltando em situação bastante precária.
Carles: Um bom recurso buscar alternativas no próprio continente, inclusive como forma de garimpo e não só seguindo indicações de craques que já estão se destacando ou as “sugestões” dos agentes. No caso dos jogadores que voltam a Europa, possivelmente o maior problema seja a fortaleza mental, a pouca motivação que trazem na bagagem.
Edu: Qualquer hora dessas falamos de alguns que voltaram e estão enganando bastante por aqui...
Carles: Feito.

2 comentários:

Cincunegui Vantuir disse...

Bem, o Atlético não tem *nenhum* estrangeiro hoje. Mas repatriou Josué e Tardelli, e fez o mais difícil, que é manter no Brasil quem se destaca, como o Bernard.

Edu disse...

Talvez essa seja uma das principais razões do sucesso, além de manter o esquema de trabalho, comissão técnica etc.