Fotos de Leo Marti Teixeira, diretamente de Wembley |
Carles:
O proletariado (quase) ao poder em Wembley?
Edu:
Uma pena um time tão corajoso e atraente não ter prêmio maior. Mesmo assim foi
bastante digno e deixou algumas boas lições. Ganhou um ótimo consolo:
reconhecimento.
Carles:
Lições como a conferência que acaba de dar à imprensa Klopp, dizendo que
prometeu aos seus jogadores que vão voltar a uma final de Champions, em Lisboa
(parou, pensou) talvez Lisboa não, Berlim, em dois anos, parece mais razoável.
“Temos que reflexionar, comprar algum jogador, pois o Bayern nos tirou um”.
Gênio e figura, não muito íntimo da bola, segundo o pai de Hummels que já foi
seu treinador. Quiçá não como jogador, mas sim como treinador.
Edu:
Klopp é, em pessoa, uma das lições de nobreza que ficam deste ano de mestrado
do Dortmund. Sai fora dos padrões de técnicos contemporâneos, ou excessivamente
passivos ou donos de um ego amazônico. Só mesmo um treinador com essa estatura
de líder sem ser repressor poderia fazer a garotada do Borussia enfrentar de
peito aberto um time tão preparado e eficiente como o Bayern. Durante um bom
período do jogo parecia que o grupo poderoso vestia amarelo e preto. Que
postura!
Carles:
E, se analisarmos a promessa de disputar outra final é, na verdade, um
compromisso pessoal, de seguir à frente do projeto mais dois anos, como mínimo.
Imagino que seus jovens jogadores agradecerão o gesto carinhoso do líder e a
sua lealdade ao grupo, num momento destes. Perguntaram a ele se Dante deveria ter
recebido o segundo cartão amarelo no lance do pênalti e ele, elegantemente,
pediu a opinião do entrevistador, concordando com a resposta afirmativa do
jornalista. Um erro primário do zagueiro brasileiro, não?
Edu:
Comprometedor e demonstrando forte desequilíbrio emocional àquela altura. Dante
é um bom zagueiro, mas tem uma vivência longa apenas em times médios, só este
ano triunfou em um grande. Fez coisas nesse jogo decisivo que não costuma fazer,
por puro descontrole. E o segundo cartão era evidente naquele lance.
Carles:
Em compensação, e não para puxar a sardinha para a minha brasa, achei que Javi
Martinez fez um jogo sensacional. À sombra do brilho de algumas estrelas de
primeira grandeza, mas um trabalho fantástico. Isso sem falar do espetáculo à
parte dos goleiros.
Edu:
Já tinha sido assim contra o Barça. Parece que se sente muito à vontade como backing vocal de Schweinsteiger e - para
desespero de Felipão - é o tipo de meio-campista que sabe ser volante mas que
também sabe o que faz com a bola nos pés. Sofreu no primeiro tempo com a
pressão do Dortmund, mas soube buscar alternativas depois. Como todo Bayern,
aliás. Só achei que o jogo caiu quando o Borussia não teve mais caixa para
fazer aquela marcação agressiva. E o meio da defesa falhou demais.
Carles:
Nos primeiros 20 minutos, eu diria, a pressão do Dortmund foi infernal. Mas é o
tipo de pressão não posicional, e por isso diferente daquela do Barça no inicio
do período de Guardiola. E nem alemão aguenta manter esse nível de pressão
muito além desse tempo. É um risco porque é esgotadora, mas é uma tentativa de
resolver o jogo no início, legítima sobretudo contra times letais, como o
Bayern. Às vezes funciona quando o gol sai, às vezes não.
Edu:
Mas resume justamente uma das maiores belezas do futebol: o risco. O Dortmund
entra para as galerias dos grandes porque não se importa em assumir riscos. Foi
assim o tempo todo nesta Champions, inclusive em situações extremas como no
complicadíssimo confronto contra o Málaga. De alguma forma, Carlão, o
proletariado chegou, sim, ao poder em Wembley. Quem daqui por diante não
incluirá o Borussia Dortmund entre os temíveis da Europa?
Carles:
O proletariado chegou e tratou a elite sem nenhum complexo, assustou até.
Sempre que vejo um time jogar assim, torço para que o projeto perdure. Torço,
mas temo, como todo europeu em tempos tão instáveis, em que times como o
Deportivo de La Coruña, da primeira divisão do futebol espanhol, se veem
obrigados a cortar gastos como a assinatura de TV a cabo com a qual o corpo
técnico podia observar outras ligas, jovens valores, adversários.
Edu:
Não acredito que o modelo do Dortmund tenha essa superficialidade, me parece
algo bem mais consistente. A não ser que Senhora Merkel, atenta observadora
ontem na tribuna, apronte alguma das suas.
Carles:
Sempre tem esse risco. Longe de mim comparar o projeto do Dortmund com o Depor, mesmo nos seus melhores anos, baseado
em outro modelo de financiamento, nem tão admissível. E não é superficialidade,
não, é a água batendo no pescoço. O que eu quero dizer é que as coisas mudam
muito rapidamente por aqui, ultimamente, e poucas vezes para melhor. Mas
voltemos à final, e ao vencedor. Que futuro terá uma equipe que atropelou todos
os adversários que encontrou pelo caminho, que pode acabar a temporada
conquistando todos os títulos importantes disputados e que decidiu trocar de
técnico? E não por um técnico que costuma aceitar projetos herdados.
Edu:
O Bayern de Pep, boa dúvida. Dou um palpite: haverá um período de transição
em que Guardiola vai preferir continuar vencendo com parte dessa estrutura
atual, e, dependendo dos resultados, terá condições de pouco a pouco impor seu
modelito. Lembre-se de que não é fácil o trato com os cartolas germânicos. É,
disparado, o maior abacaxi para o seu ídolo no primeiro ano de Alemanha.
Carles:
Um desafio, sem dúvida, e também acho mais aconselhável agir com prudência,
aderir à meia verdade de que não se mexe em time que está ganhando. E para
começar, nem bem chegue ao novo clube, já vai disputar o primeiro título
europeu da temporada, a Supercopa, em jogo único e logo contra quem? Contra o
Chelsea de Mou!!!!
Edu:
Melhor começo impossível.
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