sábado, 18 de maio de 2013

Nem títulos nem humildade


Edu: Vi a decisão da Copa del Rey e me pareceu um fim nada abonador para a 'Era Mou'. Pressão sobre o árbitro, pancadaria, Cristiano expulso por dar 'una patada', brigas entre os reservas.. Parecia até jogo da Libertadores..
Carles: Um jogo muito nervoso, de muito contato e nada brilhante. Tensão de um lado pelos 14 anos sem ganhar o derby madrileño, mas sobretudo do outro, porque perdendo o jogo, como de fato aconteceu, a temporada termina sem nenhum troféu. Um fracasso rotundo para um dos maiores orçamentos esportivos do planeta.
Edu: Mesmo assim poderia ter sido um time mais elegante na derrota. Aquela atitude de receber a medalha e tirar imediatamente do pescoço é muito acintosa, uma reação rasteira, medíocre. E me pareceu combinada antes, porque foram raros os jogadores que não tiraram ali mesmo, diante do rei.
Carles: Não foi das piores reações madridistas e remito-me à serie de derrotas impostas a eles pelo Barça, recentemente. A reação agressiva de Cristiano aconteceu graças ao ardil do Cholo que fez com que Gabi e Juanfran conseguissem irritar o jogador português, com pouquíssima liberdade. Foi uma típica reação de impotência. Como ele, senti o resto do time um tanto resignado, como se a derrota não fosse tão inesperada. A confusão ficou por conta de Pepe, que tomou uma bordoada de Diego Costa e, pasmem, Kaká. Ambos foram tomar satisfação com os reservas do Atlético. Quanto ao desprezo à medalha, parece-me uma atitude para a galera, como insinuando que "não é digna do grande Madrid". Assim mesmo, uma atitude prepotente, como as que já nos tem acostumados esse clube.
Edu: Se for uma atitude para a galera, pior ainda. E a reação dos brasileiros... me poupe. Menos mal que do outro lado os dois gols foram de brasileiros, outros jogadores da terrinha que entram para a história do 'Aleti'. Mas o fato é que, no Madrid, todos parecerem sentir o peso do fim de um projeto. Em campo, o time foi um bando sem muita lógica, mas ao mesmo tempo achando que ganharia o jogo quando quisesse. Na verdade, é um fim de temporada bastante deprimente porque, não podemos negar, ali estão grandes jogadores, com uma estrutura monstro, em um estádio mítico, um ambiente luxuoso. A frustração deve ser proporcional.
Carles: Os goleadores Diego Costa e Miranda reviveram na memória dos ‘colchoneros’ dois dos seus ídolos dos anos 70, que ocupavam justamente as mesmas posições, Leivinha e Luís Pereira. O pesadelo da temporada prolongou-se durante a entrevista coletiva com Mourinho insistindo em falar na primeira pessoa, recordando que foi a pior temporada da carreira dele, que se sente decepcionado, sem nenhuma referência ao clube, nem à torcida, nem aos seus jogadores. Ele não só está demonstrando que é mesquinho e egocêntrico, mas que não tem nenhuma habilidade social, pois se os resultados seguirem nessa tendência negativa, vai ficar sem a sua corte particular, rapidinho. A única referência a outra pessoa que não a ele mesmo foi ao goleiro do Atlético, Courtois, em inglês e em  resposta a um jornalista britânico, dizendo que é um grande goleiro e que é jogador do Chelsea, como se já falasse em nome do clube inglês.
Edu: Tenho a sensação de que o casamento Mou-Madrid terminará em barraco. Não me admira se o luso sair atirando para todos os lados e certamente virão respostas do elenco. Teremos um junho animado, enquanto Florentino não remontar o time. E te digo mais: muita gente vai deixar Chamartín, ou por falta de clima por causa de suas relações com Mou ou porque não aguentam mais o 'esquema Madrid'.
Carles: Nem tão certo assim, esta semana os jogadores estiveram almoçando todos juntos em clima de confraternização, sem nenhum dos componentes da comissão técnica, em que pesem as notícias de que teriam sido convidados. Quem sim foi avisada foi a imprensa e a cobertura foi das maiores. Jogadores como Essien, Coentrão e Pepe, apesar das últimas atitudes desesperadas de reconciliação com os companheiros, devem sair, mas não acho que as mudanças sejam tão radicais. Duas ou três contratações de impacto com finalidade eleitoreira e, nesse caso, devem ser vendidos alguns jogadores. Sigo apostando na permanência de Kaká, se for confirmada a vinda de Ancelotti.
Edu: Ainda assim espero um junho bem animado. E não sei se você reparou numa coincidência (não custa forçar um pouco a barra). No dia em que morreu um modelo de autoritarismo, um dos maiores facínoras da história, o general argentino Jorge Videla, dois projetos capitaneados por ícones do totalitarismo no futebol também fizeram água, o de Mourinho e o de Luxemburgo, que na véspera perdeu mais uma com o Grêmio e está fora da Libertadores. Montou um time milionário, prometeu mundos e fundos e não ganhou sequer o Campeonato Gaúcho. Só pra constar...
Carles: Coincidências não existem e não custa sonhar com tempos sem tiranos. Por falar em sonhos, além do título, outro ‘colchonero’ célebre, Paulo Futre, recordou que os meninos torcedores do Atlético com idades inferiores aos 14 anos, conseguiram finalmente ver pela primeira vez seu time ganhar ao todo poderoso clube da cidade. Não pude deixar de lembrar de que eu vivi aos meus 12 anos uma sensação semelhante com uma quebra de um longo tabu, justo contra um adversário todo de branco. Hoje estou nostálgico.

Nenhum comentário: