domingo, 19 de maio de 2013

A ficha está caindo


Edu: Temos que voltar a um tema blockbuster, inevitavelmente. Adivinha?
Carles: Neymar.
Edu: Difícil né? Bom, há cinco ou seis posts falávamos da insanidade dos números envolvendo a Operação Neymar e a disputa Barça-Madrid. Mas, desde então, parece que a ficha começou a cair. A primeira reunião oficial dos dirigentes catalães com o pessoal do Santos foi um fracasso: uma oferta de 15 milhões de euros.
Carles: Ou é o que se divulga, números convenientes, pretexto para a recusa e saída da mesa de negociações do pai da criatura sapateando, e para o Barça, nação ainda muito desconfiada de que a contratação possa ser um risco, sem nenhuma garantia. E tem mais: quando chegarem perto dos 35 milhões (começo a desconfiar que o Barça oficialmente não passará disso), podem alegar que o esforço está sendo muito grande, bem acima das possibilidades.
Edu: Ficou claro que existe esse lado da negociação para a galera ver e o lado da negociação real. Logo depois da primeira reunião desse diretor do Barça que está aqui, Raul Sanllehí, surgiram notícias de que a oferta seria, na verdade, de 27 milhões, mas mesmo assim o Santos continuava resistindo, apoiado pelo pai do Neymar, enquanto a DIS, dona de 40% do passe, considerava a conversa um bom começo. O momento do negócio é delicado, vésperas de uma final de campeonato, e fica difícil deixar Neymar fora disso, o que torna ainda mais nebulosa a troca de propostas. Mas, neste momento, o Santos não se conforma que Neymar deixe o clube por praticamente metade do que foi pago pelo PSG por Lucas, o que é uma comparação um tanto estúpida, porque nem os 35 milhões que você diz seriam suficientes para equiparar as propostas (Lucas custou 43 milhões).
Carles: Barcelona não é Qatar. Com o xeique do PSG não se brinca. Recadinho dele para Florentino: quer levar o Ancelotti, leva, mas eu vou buscar o Cristiano por, hummmmm, digamos 100 milhões. Estima-se que o Barça reservou 50 milhões para contratações. Só que sempre há de se considerar uma coisa na hora de avaliar e comparar as ofertas do Barça com, por exemplo, as do Madrid. No Barça, os direitos de exploração de imagem e publicidade são integralmente para o atleta. No Madrid, é fifty-fifty. Por isso as quantias pirotécnicas do Florentino. Ele coloca o sujeito na prateleira e começa a faturar em cima dele.
Edu: Mas você vai concordar que existe sempre a hipótese de Florentino baixar na Vila e romper com todas as previsões. Só que, neste momento, é bom frisar, o choque de realidade quem tomou foi o Santos, que entrou na onda delirante dos últimos dias e achou que faria o negócio do século, nunca menos que 50 milhões de euros na mão. Agora percebeu que não é bem assim, que os clubes europeus pagam uma coisa para seus vizinhos e outra para sul-americanos. A impressão é de que a oferta de 15 milhões representou um grande susto, isso sim. Uma boa tática do Barça para trazer a negociação a um patamar muito mais realista.
Carles: Exatamente. Matou, na mosca. É essa a tática e inclusive para deixar o Florentino meio no ridículo diante dos torcedores do Madrid, também inseguros sobre a contratação do Neymar. Essa foi a ideia do Barça, enviando alguém cujo cartão de visitas diz ser responsável pelo departamento de futebol, mas com um papel secundário na cadeias de mando do clube. Outro aspecto: existe um índice de desvalorização que aparece no manual do dirigente europeu e que se aplica ao valor do passe  do jogador que vem do outro lado do "charco". Esse índice se chama “tempo de adaptação”. Isso eles aprenderam por aqui  e esse período pode ser de meses, temporadas ou nunca, até.
Edu: E obviamente que a taxa de adaptação não é pequena. É diferente, por exemplo, de pagar uma fortuna por Kaká ou Hulk, que já estavam aí, tinham já a pegada europeia. O fato é que o Santos está num instante complicadíssimo. Ao mesmo tempo em que não queria tratar do negócio antes da decisão do Paulistão, foi pressionado a conversar porque, dependendo do que acontecer no jogo contra o Corinthians, muita coisa pode mudar porque o mercado aproveita qualquer argumento momentâneo para turbinar ou desidratar os valores. Vamos que Neymar acabe com o jogo e confirme parte do que se pensa dele. O Santos na segunda-feira chegará todo empavonado para negociar. Mas e se ocorre o contrário?
Carles: Você quer dizer com isso que o Amarilla pode ser indicado para arbitrar o jogo com o fim de valorizar o passe do menino?
Edu: Amarilla não, porque nem passaria do aeroporto. Mas nunca se sabe... Certamente teremos a seguinte situação na próxima rodada de negociações. Ou o Santos chega dizendo 'esse é o meu garoto!' ou o Barça começa a conversa com um 'me parece que não é tudo isso'...
Carles: Não existe a chance de Neymar acabar mais ao norte? Há alguma possibilidade, remota que seja, de que depois de tanto estardalhaço, outra gente que, por exemplo, não goste de tourada possa assimilar uma contratação que acabou virando um circo?
Edu: Um ex-dirigente do Santos andou espalhando que o Bayern, a pedido de seu amigo Pep, teria feito uma megaproposta pelo garoto e que já teria acertado tudo com a família. Talvez seja mais uma especulação para ser colocada sobre a mesa.
Carles: Parece especulação, sim. Inclusive não seria tão estranho assim que a obsessão de Rossel por reencarnar em Neymar o maior êxito da vida dele, a contratação de Ronaldinho, tivesse sido um dos tantos desencontros entre o cartola e Pep, e que precipitou seu ano sabático.
Edu: Próximo capítulo, no fim da tarde de segunda-feira.
Carles: Aguardemos.

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